Machado e Juca Luiz Antonio Aguiar
Estou consciente do quanto minha impaciência com a ignorância alheia possa ser vista por muitos como soberba. Mas também sei que ela não é direcionada àqueles que não tiveram acesso à instrução, mas aos que se esquivam do tipo de análise que não imporia barreiras nem a uma ameba desidratada.
Chega-se a uma idade na vida em que até cometer erros leves incomoda muito, pois que a ânsia pelo que ainda se deseja construir é tanta que não sobra espaço nem paciência pra perder tempo corrigindo asneiras.
Existe um tipo específico de "ímpios" que não vai além de pessoas livres que ousaram desafiar a submissão física e dogmática que as religiões lhes tentaram impor por meio de um deus irado e vingador, que as ameaça com o fogo do inferno caso não se deixem subjugar por seus líderes inescrupulosos e escravocratas.
Há milhões e milhões de pessoas que só ficam felizes quando são admiradas. Mas tem algumas que se tornam inesquecíveis apenas por se mostrarem admiráveis!
É preciso muita determinação, equilíbrio, mas, sobretudo, coragem para lidar com a Verdade. Ela nos revela coisas que, se pudéssemos, escolheríamos não saber. Daí porque os que a tomam como luz para sua estrada não podem evitar o sofrimento com o que descobrem quando ela expõe suas feridas sem pedir-lhes licença. Muitas revelações contrariam crenças tão profundamente enraizadas que dói muito comparar, pois que colocam holofotes sobre coisas inconfessáveis que preferiríamos continuassem na inconsciência, motivo pela qual a maioria opta pela escolha mais fácil da negação, onde só os mais corajosos a assumem para si mesmos e uma parcela menor ainda reúne força para assumi-la também para os outros.
Reencontrar pessoas com as quais se deixou de conviver durante décadas pode promover surpresas muito interessantes. Tanto pode levantar questões sobre como conseguimos manter um relacionamento por tempo tão longo, pela constatação de que continuam sendo as mesmas de sempre, quanto dar a dimensão do quanto crescemos quando nos tratam como que olhando para uma foto "lambe-lambe" de nosso passado, mas completamente desatualizada em relação ao que nos tornamos. Mas há casos bem mais raros onde a sensação é a de haver desperdiçado momentos preciosíssimos nesse período de afastamento, por conta do sentimento de ninho que o reencontro proporciona.
Por princípio não dou crédito a nada que se pretenda discorrer sob o título de “A verdade sobre...”. Quem pode, em sã consciência, afirmar que detém a verdade sobre o que quer que seja? O bom senso nos ensina que, no máximo, conseguimos reunir diferentes versões sobre a realidade dos fatos para que cada um forme, pela sua lógica, o juízo que se apresenta como mais razoável a respeito. Tudo o mais não passa de arrogante pretensão de mentes obcecadas pelo desejo de domínio ou, o que é pior, já acometidas pela manipulação daquelas.
Existe um dia qualquer, dentre todos os felizes que tivemos em que, logo ao despertar da manhã, se segue um outro denso e pesado: o dos erros que cometemos ao longo de toda uma vida por conta de nossa inconsciência. É quando um manto parecendo pesado demais para o suportarmos nos envolve a alma de forma avassaladora por todos os que fizemos sofrer de alguma forma, pois se sabe que não há nada a fazer para consertá-lo. Mas até uma manhã que chegou coberta de nuvens negras e tenebrosas traz um sol fulgurante por detrás delas, que ressurge dizendo: “Nada está perdido! Toma o tempo que te resta para resgatar todas as que possas e devolver-lhes o brilho, do modo como agora te ilumino. O mais importante no amanhecer é saber que o sol surge de novo, e seu calor apaga em pouco tempo os medos noturnos nos quais tu e elas pareciam mergulhados para sempre.”
Ser um pensador não consiste apenas no ato de realizar a função cerebral. Tal ação é exercida por qualquer ser vivo num grau maior ou menor de elaboração mental. O que distingue um pensador dos demais indivíduos é nunca sentir-se atendido por ideias prontas, mas inspirar-se nelas para desenvolver uma própria a partir de um insaciável instinto para identificar pontos consistentes e sair em busca dos elementos faltantes que lhes supram as incongruências. O indicador de ter alcançado seu pressuposto básico é quando se pára de buscar por iguais, enquanto se nota um número cada vez maior deles no entorno em decorrência de um processo natural de retroalimentação.
Esqueça a ideia de tentar me definir. Você pode me achar em qualquer lugar, menos enfiado num "ismo".
Ninguém faz minha cabeça, nem pro bem, nem pro mal. Meu único vetor de convencimento é minha lógica.
Diferentemente do que possa parecer, o papel mais importante do Pensador não é pensar - pois que isso é uma função inerente à sua natureza - mas em desencadear a revolução interna em todos os outros para que também o façam.
O único modelo ilegítimo e condenável de felicidade é o construído sobre a infelicidade dos demais. Todas as outras formas se constituem em um direito inalienável do indivíduo e devem ser defendidas até o fim, em nome das liberdades e ao preço de se abrir mão da dignidade enquanto ser humano.
Poder-se-ia comparar erroneamente a missão do Pensador ao da formiga-operária, que garante a sobrevivência de seu formigueiro pelo alimento. A diferença é que ele não vê sentido em alimentar apenas seu formigueiro de origem. Seu “trabalho de formiguinha” – incessante e invisível – é o de prover o grande formigueiro humano de pensamento, fazendo chegar a cada indivíduo a compreensão do seu papel na construção de uma sociedade muito melhor da que encontrou, tendo o infinito por território e sem uma “rainha” definindo o que precisa ser feito. Faria mais sentido comparar seu trabalho ao de uma abelha que, na ação natural de buscar alimento para os seus, poliniza cada flor onde pousa e potencializa a vida pelo simples fato de não conseguir fazer nada que beneficie apenas a si mesma.
O grande equívoco da humanidade é insistir em adicionar um complemento ao verbo pensar, quando todas as soluções de que precisa surgem apenas pela colocação de um ponto.
Sempre rejeitei colégios em que me vestissem uniformes, escolhendo o turno da noite por não se mostrarem obrigatórios, mesmo não estando ainda consciente das razões. Olhando hoje para os das torcidas ou de qualquer coisa que remeta a corporações, bem como este repúdio a tatuagens, slogans, igrejas, clubes e associações, entendo agora que já nasci avesso ao que me sugerem, como o de avelhas colocadas num aprisco ou de reses marcadas e mantidas em curral, tendo um dono a puxá-las pelo cabresto. Descobri mais tarde que já eram sintomas inconscientes dos “cercados” e “marcas a fogo” a que minha rebeldia não me permitia ficar submetido.
Qualquer tipo de dominação é desprezível.
Toda espécie de submissão é degradante.
A menor complacência com ambas é repulsiva!
Todos podem escolher a forma pela qual gostariam de ser lembrados, o que não quer dizer que o conseguirão, pois podes ter te empenhado toda tua vida em não cometer erros, e só se lembrarem de ti como uma dessas almas mornas que não conheceram vitórias nem derrotas por teres escolhido ser “uma pessoa boa” em lugar de lutar por um mundo melhor do que encontraste. E isso nunca irás conseguir sendo apenas possuidor de um coração “frapê” e conciliador, pois são os inconformados, os rebeldes e os corajosos que fazem a diferença entre “passar pelo mundo” e deixar sua marca nele.
Só não comete erros quem não se empenha o bastante para fazer o que precisa ser feito pra entender que o caminho possível nem sempre é o mais simples.
