Longe demais
Devemos nos lembrar que perfeição é um lugar longe demais para se chegar, no entanto, dependendo da quantidade de esforço despendido na caminhada, pode-se chegar cada vez mais perto dela.
Tem desvios que a gente só entende quando já foi longe demais,
e percebe que passou tanto tempo tentando voltar,
que esqueceu como era caminhar.
O Riso da Razão
A razão nos trouxe longe demais.
Fez-se lâmina, espelho, consciência.
Inventou nomes para o que morre,
catalogou a tragédia, pesou a sombra,
criou a ilusão do controle.
Mas a morte ri.
Riu de Sócrates quando bebeu o veneno,
riu de Hamlet segurando o crânio,
ri agora de nós,
tão lúcidos, tão preparados,
tão certos de tudo que se esfarela.
A arte nasce dessa consciência:
sabemos que vamos morrer,
então escrevemos.
O poema é a voz do desespero
mas também do desafio.
Dissimula a finitude, mas não a nega.
Rabisca no ar um sentido impossível,
um mapa para lugar nenhum.
E ainda assim, rimos.
Porque entendemos o jogo.
Porque, no fim, a única resposta à morte
é este delírio lúcido—
este poema.
Maio
já está no final
O que somos nós afinal
se já não nos vemos mais?
Estamos longe demais
longe demais.