Leve como Passaro

Podemos estrangular os clamores, mas como vingarmo-nos do silêncio?.

Mas a bela juventude é como um sonho frágil, / que dura pouco: sobre a cabeça do homem / logo pende a funesta, a horrível velhice, / que o torna, ao mesmo tempo, disforme e desprezado, / envolve os olhos e a alma, destrói-os e ofusca-os.

O vinho não embriaga tanto ao homem como o primeiro movimento da ira, pois ele cega o entendimento sem deixar luz para a razão.

Amigo é uma palavra profanada pelo uso e barateada a cada hora, como a palavra de honra, que por aí anda desvirtualizando a honra.

As ideias novas são para muita gente como as frutas verdes que travam na boca.

Apto para governar está quem ama tanto o seu povo como se ama a si próprio.

A experiência é como uma mulher a quem todos rendem homenagem sem tratar de averiguar se o seu passado é irrepreensível.

Caso se queira conhecer uma pessoa, deve-se apenas observar como ela se comporta ao receber ou dar presentes.

Os escritos são a descendência da alma assim como as crianças o são do corpo.

O estilo não é a roupa, mas a pele de um romance. Faz parte da sua anatomia como as entranhas.

Autoridade: sem ela o homem não pode existir e, no entanto, ela traz consigo tanto o erro como a verdade.

Aquele que sem autoridade mata um criminoso, torna-se tão criminoso como este.

Ninguém se conhece tão bem como aquele que mais desconfia de si próprio.

Muita luz é como muita sombra: não deixa ver.

O Cão Sem Plumas

A cidade é passada pelo rio
como uma rua
é passada por um cachorro;
uma fruta
por uma espada.

O rio ora lembrava
a língua mansa de um cão
ora o ventre triste de um cão,
ora o outro rio
de aquoso pano sujo
dos olhos de um cão.

Aquele rio
era como um cão sem plumas.
Nada sabia da chuva azul,
da fonte cor-de-rosa,
da água do copo de água,
da água de cântaro,
dos peixes de água,
da brisa na água.

Sabia dos caranguejos
de lodo e ferrugem.

Sabia da lama
como de uma mucosa.
Devia saber dos povos.
Sabia seguramente
da mulher febril que habita as ostras.

Aquele rio
jamais se abre aos peixes,
ao brilho,
à inquietação de faca
que há nos peixes.
Jamais se abre em peixes.

Tememos tudo como mortais, mas desejamos tudo como se fossemos imortais.

Os nossos desejos confusos encontram expressão na questão confusa assim como na força da natureza e eletricidade. Mas a resposta que queremos não é a resposta para esta questão. Não é por encontrar mais relações e conexões que se alcança a resposta, mas sim através da remoção das contradições existentes entre as já conhecidas e talvez reduzindo o seu número. Quando estas contradições dolorosas são removidas, a resposta à força da natureza não foi respondida. Mas as nossas mentes deixam de ter vergonha e param de fazer perguntas ilegítimas.

O luxo, assim como o fogo, tanto brilha quanto consome.

A diferença do sucesso ou não sucesso está dentro da gente. Está na forma como nós pensamos, na forma como nós agimos.

Um homem bom não necessita de monumentos: os seus atos permanecem como o seu santuário.