Lápis

⁠Mas eis que o tempo, cruel e astuto, sufoca a angústia, a torna um indulto.
E a jovem, agora, já não sente a ferida, segue, inerte,
confortavelmente entorpecida.

⁠Eu sou o rio que flui contra a maré,
eu sou a semente que brota no asfalto,
eu sou o verso que o vento não cala,
eu sou o eco que ressoa no silêncio.

⁠Minhas pernas são raízes, firmes, profundas,
minha mente, um pássaro que não conhece grades.
Eu sou o mapa e a bússola,
eu sou o sonho e o destino.

⁠Se a chuva lhe pesa, espere a aurora, pois toda tormenta, um dia, vai embora.

A dor não é sina, tampouco prisão, há luz escondida em cada estação.

⁠Céu estranho


A noite,
sempre nossa,
brilhou diferente.

Talvez, lá fora,
outros olhos
também nos vigiem.

Mas só a dúvida
nos oferece companhia.

⁠Se um dia fui riso, se um dia fui pranto,
se causei a dor ou fui ledo encanto,
sou feito de falhas, mas sigo a lutar, errando, aprendendo, buscando acertar.

⁠Sente-te! Que o tempo te escreve em poesia,
Sente-te! Que o agora é tua melodia, Sente-te! Que és dono da pena e do tom, Sente-te! Que és verbo, futuro e dom.

⁠Dão e florescem, dão e semeiam, ensinam sem quadro, sem giz, sem sala,

⁠Eu posso trilhar novos passos, ser coragem, ser imensidão, ser o sopro que toca o chão.

⁠A indiferença não é só um mal social, é crime contra o ser, contra o bem universal.

⁠Pois somos humanos, de sonho e defeito, e o tempo nos talha à forma e ao jeito.

⁠Prejudicar o próximo é como cuspir em si mesmo, é envenenar o poço onde sacio a sede.

⁠Se um dia ensinaram a todos partilha, por que agora o mundo separa e humilha?

⁠Nos labirintos da mente, onde o mundo se desfaz, a pureza das ideias não se dobra jamais.

⁠Qualquer um pode comprar um microscópio e um ferro de solda, mas isso não o torna técnico em eletrônica, qualquer um pode comprar um pincel e tintas, mas isso não o torna artista, qualquer um pode comprar um computador e um lápis, mas isso não o torna engenheiro, qualquer um pode ter ferramentas, mas isso não o torna especialista.