Jardim das Borboletas Vinicius de Moraes
Há inclusão de corpos, mas exclusão de ideias divergentes; promove-se diversidade de identidades, mas não de pensamentos.
O capitalismo cultural deslocou o foco do modelo patriarcal hegemônico para o fortalecimento e destaque das pautas wokes — não por princípios, mas para ampliar seus nichos de mercado.
De fato, há uma convergência do capitalismo contemporâneo com pautas identitárias — especialmente quando essas pautas podem ser convertidas em imagem, marketing, consumo ou pertencimento a nichos.
Essa aderência, por vezes, não se dá por convicção ética, mas por oportunidade de mercado.
Ao mesmo tempo, observa-se uma divergência crescente do mesmo sistema em relação a ideias tradicionalmente associadas à ordem, à autoridade ou a papéis fixos — como os antigos ideais de masculinidade: o homem provedor, alfa, patriarcal, racional, contido.
Essas figuras, antes exaltadas pela publicidade e pela cultura de massa, passaram a ser vistas como símbolos de atraso ou opressão, sendo descartadas ou ridicularizadas nos novos discursos dominantes.
Trocam-se extremos sem espaço para síntese. Sai a rigidez do passado, entra a fluidez do presente — mas o radicalismo persiste, apenas com outra roupagem.
Em vez de integrar valores, seguimos substituindo um polo por outro, como se a sensatez fosse sempre sacrificada em nome da agenda do momento.
Ecos do Atraso
A estrada não tem piedade de quem tenta recuperar, em minutos, o tempo que se perdeu no espelho da vaidade.
A pressa nasce do tempo mal planejado, o perigo cresce no pé acelerado.
Quem vive correndo contra os ponteiros, faz do tempo seu oponente,
do volante, arma potente, e da pressa, tragédia iminente.
Mas o imprevisto — esse que todos culpam — só vira rotina onde falta disciplina.
Porque sair com tempo é sabedoria,
e estar vivo é sempre mais urgente
do que chegar na hora.
Não é no volante que se compensa o relógio. A velocidade no asfalto é convite ao velório.
Quando a Revolta Vira Produto
Há uma incoerência gritante — e, muitas vezes, conveniente — nos discursos anticapitalistas que florescem dentro do próprio capitalismo. Militantes e ativistas que dizem combater o sistema usam plataformas como YouTube, Instagram e TikTok para monetizar suas críticas. Vestem-se de resistência, mas atuam dentro da lógica capitalista, lucrando com curtidas, visualizações e parcerias.
O que deveria ser luta virou negócio. O ativismo virou produto. E muitos militantes se tornaram marcas pessoais, embalando a indignação em discursos vendáveis, com engajamento calculado e lucros constantes — exatamente como o mercado gosta.
A pergunta que permanece é direta e incômoda:
Se são genuinamente contra o capitalismo, por que aceitam os frutos do sistema?
A autenticidade exigiria renúncia — abrir mão dos ganhos gerados por aquilo que se critica. Mas coerência ética é artigo raro.
Mudanças sociais, econômicas e políticas são construídas por diversos atores — culpar apenas o patriarcado é reduzir a complexidade das relações humanas.
O uso exagerado da “muleta” do patriarcado como culpado de todos os males infantiliza e bloqueia o amadurecimento necessário para lidar com escolhas, sofrimento e fracasso.
Mais que denúncia, a crítica ao patriarcado virou instrumento político na disputa pelas narrativas.
O mérito nasce do fazer por merecer, do esforço genuíno, reconhecido dentro das condições reais de cada um; já a meritocracia parte da ideia de que todos podem vencer, basta querer — independentemente do ponto de partida.
Meritocracia é a promessa do liberalismo; igualdade, a esperança do socialismo, utopias que o mundo insiste em negar.
O orgulho como escudo contra a baixa autoestima social — um mecanismo de defesa que busca restaurar a dignidade onde a exclusão deixou suas marcas.
Ainda que zerássemos as desigualdades sociais e econômicas, diferenças morais, éticas e de caráter seguiriam desafiando a ideia de meritocracia.
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