Ha mil Razoes para Nao Amar uma Pessoa
pântano
Algum dia serei uma floresta com todo seu mistério
Moleque saci, curupira, caipora, lobisomem...
Então serei riacho com águas cristalinas e pouca profundidade,
Algum dia serei uma cidade com seus viadutos e arranha-céus
Algum dia serei o mar com suas sereias e todo encanto divino,
Algum dia serei poeta com o coração empenhado
Por meia dúzia de olhares, sofrendo por amor e paixão...
Então desejarei novamente ser pântano triste e sombrio na minha solidão...
OUTRAS NOITES
Depois vem outra noite dentro da noite
Uma lua crua feito queijo coalho
Cheia de crateras.
A coruja pia, o sapo coaxa
As moças estão nas praças
Com seus vestidos de babados
E lábios de morangos e cerejas
Na noite de meia lua
Um eclipse remete-nos a um apocalipse..
O queijo coalho esta na mesa,
A bíblia esta aberta sobre o criado mudo
Gênesis, o começo de tudo
E Deus disse haja luz
E surgiram estrelas
Mas um dia seu filho morreu na cruz
Então vieram outras noites,
Outros Barrabazes e queijos suíços...
Depois disso, noites e mais noites...
Depois vem outra noite dentro da noite...
E um ciclo!!!
BRISA SUAVE
Quando o fogo consumiu
O corpo de Joana D’Arc
Uma brisa suave soprou
Para aliviar todos os espíritos,
A dor de todas as almas,
Que viram suas glórias
Nos campos de batalhas...
Aquela cinza se espalhou
Sobre o solo francês,
Germinando bravos guerreiros...
Sua espada brandiu em outras mãos,
Venceram outras batalhas,
Fazendo surgir uma França
Justa e gloriosa...
PAR DE ASAS
Tem uma assembléia de ratos no porão,
Uma congregação de fantasmas no corredor
Tem uma lembrança se desfazendo,
O tempo fenecendo,
Um femeeiro fornicando;
Eu tenho o medo
Como escudo para todos os males,
Tem zumbis nas esquinas,
Tem uma criança galopando num hipopótamo,
Porcos dormindo sobre pétalas de rosas
E um elefante se equilibrando
Sobre as hastes de uma videira ,
Tem a erupção de um vulcão na sala de estar,
Uma lagoa na cozinha,
Meteoros caindo no quintal, fogo no canavial...
Mas a minha caneta mágica
Cria um par de asas,
Um tapete voador e um horizonte,
Me faz flutuar e exorcizar todos os demônios...
introspecção
O que é mais triste que uma noite fria e chuvosa? Mendigos nessa noite...
O que é mais triste que despedidas? A solidão
O que é mais triste que uma criança faminta? A sua mãe
SENTINELA
A madrilenã é uma guerreira de pele tão branca
Que me passa lembrança de outros planetas,
De estações repletas de borboletas,
De memoráveis outonos em Florianópolis,
Vejo-a com a espada incandescente,
Cavalgando às savanas, destroçando dragões e alienígenas,
Galopa num puro sangue árabe,
Enfrentando espúrios e tiranos,
Que violaram leis e mancharam de rubro de sangue,
A honra dos espanhóis...
Voa no seu cavalo com a magia dos bruxos e o poder dos deuses,
Ela é a sentinela do sistema solar,
Vigia a via láctea, protege o brilho das estrelas,
Ela mergulha no mar com seu corcel,
Conversa com o polvo e com as baleias,
Canta com as sereias,
E renova o desejo e o encanto de amar
Pra se entregar nos bosques
Ao prazer e a magia delirante de ser mulher apaixonada e frágil...
LUAR
Esse encanto que aos apaaixonados engana,
Semeando a fantasia de uma noite eterna de amor,
Que aos poetas românticos, que juram que amam
Mas se embriagam e se esvaem na desilusão da dor,
Boêmios profanam a noite pelo vicio,
Às noites, se desintegram no brilho das estrelas,
E os vampiros, os lobisomem, os predadores,
Notívagos com a aurora se transformam em borboletas...
Nos meus desalento é contigo que eu conto,
Solitário que sou, sob a tua luz se derramam
Minhas fáceis angústias, meus raros medos...
Acreditar no amor não faz de mim um tonto
Pois os incautos e os brutos também amam
À paixão se entregam e não fazem segredos.
Eu ainda tenho uma certeza: azul é o céu
e a certeza de que estou bem perto
do que é perto de felicidade...
MENTIRA
A vida jamais será uma mentira,
Mas se a vida fosse uma mentira
Estaríamos na esquina
E como se você não soubesse
Eu te falaria dos meus desejos,
Você fingiria surpresa
E com as coisas bonitas que eu falasse
Você se encantaria
Mas a vida não é uma mentira
E a lua cheia que eu vejo ninguém mais compactua
E a rua que eu moro não tem esquinas
E as mentiras que eu escrevo não tem rimas
A vida é uma verdade sem sua presença
E as minhas mentiras são só minhas
Sempre quis a solidão da lua
Que a rua escura
E esta ternura débil e insana
É a mãe desse amor platônico;
Sempre quis olhar da janela
E ver a janela nos teus olhos
Enquanto tua respiração
Afugentasse as abelhas dos cálices das flores
A vida jamais será uma mentira
Esta mentira só existe nos meus sonhos
Todas as feridas precisam de tempo,
A solidão precisa apenas de uma lua
Algumas estrelas e uma varanda
Os poetas precisam de ilusões,
Algumas mentiras, promessas e solidão;
Acho que perdi tudo isso
Eu só preciso de tempo, de algum tempo ainda,
Uma longa caminhada no campo
Onde qualquer sorriso se perca
Nos sons de curiós e pintassilgos
Preciso do encanto de novos ocasos
E auroras promissoras
Ter a tristeza como medida de sensibilidade
Para ter a noção exata do que é,
E o que define um olhar...
JIA
A princesa beijou o sapo e virou uma jia
E tudo que o sapo coaxava
Aos seus ouvidos era poesia,
E todo pulo, todo arroto era estripulia...
A língua esticava, o mosquito pegava,
As estrelas luziam...
Se todas as constelações habitassem a lagoa
E todos os beijos habitassem as canções
Onde estaria a sapa?
Valas são partituras nas periferias
Onde cantam as jias e ecoam as pererecas
A princesa conheceu esse mundo
E saiu beijando tudo o que era vagabundo
E o coaxar dos batráquios ecoava em todo canto
E o encanto da princesa se perdia
Que príncipe beijaria uma jia?
Então só lhe restava o pântano,
O espanto das sombras, as sobras na lama...
O drama de se aceitar como jia,
E ter a certeza que o conto de fada mentia...
ETERNIDADE
Era uma casa grande de frente ampla pra um imenso campo de pasto, que se perdia ao longe com elevações de algumas colinas onde invariavelmente o sol repousava nos finais das tardes. Um rio riscava a paisagem com algumas curvas sinuosas donde surgiam carroças e mulheres com bacias nas cabeças seguidas por crianças que vadiavam entre flores, libélulas, borboletas e alguns passarinhos que festejavam a aurora ou alardeavam nos finais de tardes, anunciando as noites. Neste cenário vivemos os mais belos anos de nossas vidas de uma paixão, que certamente inspiraria poetas, romancistas, cantores e qualquer ser vivente com um pouco de sensibilidade.
Protagonista desta história, posso afirmar, que a felicidade faz galopar o tempo num tropel frenético e irrefreável. Foi lindo, foi infindo, foi infinito; mas até o infinito é arrastado pelo galopar enlouquecido do tempo; e um dia eu me vi sozinho, tonto com o serpentear do rio, as vertiginosas colinas e um vulto que dava sentido àquele cenário. ah, tantas coisas mudaram naquele cenário; os horizontes foram se limitando dando lugar a torres, antenas e telhados: mas o que eu via era o passado, longe de asfaltos e pontes, perto de auroras incríveis e ocasos paradisíacos. Um dia reuniram-se irmãos, filhos e netos e choraram pelos que eu jamais choraria. O tempo galopara a minha existência; mas agora, este plasma infinito dessa ternura louca, fiel e inabalável insiste: é uma casa grande, de frente ampla pra um imenso campo de pasto que se perde ao longe nas elevações de algumas colinas, onde invariavelmente o sol repousa nos finais de tardes... com sua roupa branca como a candura de um anjo, ela caminha em minha direção sem nenhuma pressa, sabe que temos toda a eternidade...
CAÊ
Um verso é um pingo de letra no universo,
É uma borboleta no pingo do i,
Uma estrela na pele da besta ,
Uma besta tatuada na bela...
Caê é um poema,
O universo é a menina ingenua
Que não sabe da força do seu sorriso
E brilha no olhar uma supernova
Como se fosse faísca
Qualquer homem é fisgado nessa isca
Poema é "UM ÍNDIO"
Sob o terno do executivo
Sobre suas filosofias ultramodernas e high tecnologias
É a batalha do átomo, contra o tacape, o arco e flecha ...
Caê sabe das letras e ponto 'g' das palavras
E das ternuras na ponta do prego que penetra o mogno
Porque o martelo martela a sua cabeça
E por mais que pareça dolorosa essa relação
Daí são feitos berços e camas que propiciam
Acalanto, amor e a paixão
TEMPORAL
Mais triste que uma tarde chuvosa
Ela respingava suas tristezas
Nas incertezas dos pingos da chuva
Mas se chovia ela se alegrava
E cantava Ben Jor: "chove chuva..."
E, se alagava, ela secava
Mas o que encharcava o seu ser
Nem era chuva de chover
Agora tente entender: neblina era querer
Chuvarada era fantasia
Mas relampejava e trovejava
Um temporal com ventania...
mais belo que uma mulher despida,
só uma mulher despida na horizontal;
mais belo que uma mulher despida na horizontal,
só uma mulher vestida na vertical;
pois nada é mais belo que o prazer de despi-la e deitá-la
