Guimaraes Rosa a Menina de La

Todos os homens são bestas; os príncipes são bestas que não estão atreladas.

Onde intervêm o favor e as doações abatem-se os obstáculos e desfazem-se as dificuldades.

Há injúrias que temos de ignorar para não comprometermos a nossa honra.

Admiramos o mundo através do que amamos.

A glória só chega àqueles que com ela sonharam.

Uma árvore nua
aponta o céu. Numa ponta
brota um fruto. A lua?

São sempre desatinadas as vinganças por ciúmes.

Os pintores só devem meditar com os pincéis na mão.

As amoras

O meu país sabe às amoras bravas
no verão.
Ninguém ignora que não é grande,
nem inteligente, nem elegante o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar nas silvas.
Raramente falei do meu país, talvez
nem goste dele, mas quando um amigo
me traz amoras bravas
os seus muros parecem-me brancos,
reparo que também no meu país o céu é azul.

O insignificante presume dar-se importância maldizendo de tudo e de todos.

Há dois poderosos destruidores: o tempo e a adversidade.

A indiferença ou apatia que em muitos é prova de estupidez pode ser em alguns o produto de profunda sapiência.

Os velhos que se mostram muito saudosos da sua mocidade não dão uma ideia favorável da maturidade e progresso da sua inteligência.

O amigo é um segundo eu.

Os males que não são percebidos são os mais perigosos.

A preguiça dificulta, a atividade tudo facilita.

Muita luz deslumbra a vista, muita ciência confunde o entendimento.

A luxúria é como a avareza: aumenta a sua própria sede com a aquisição de tesouros.

Deus, que eu morra no palco!
Não me coroem
De rosas infecundas a agonia!

A beleza não passa de uma maravilha que a natureza arma à razão.