Fui
DIGNAMENTE VELHO
Demétrio Sena - Magé
Quando fui criança, todos me chamavam criança... é muito digno ser criança. Na adolescência, me chamavam adolescente. Menino. Quanta dignidade há no adolescente! No ser adolescente! Na juventude, fui chamado novo; moço; jovem. É tão digno ser jovem!
Eu era um homem maduro, na maturidade. Redundante? Como em todo o parágrafo anterior, não. Tem muita gente imatura em qualquer idade. Quanta dignidade no ser maduro! Quanto respeito e quanto auto respeito na idade da loba, o lobo!
O que me pergunto é por que agora, idoso, não gostar de ser chamado idoso... ou velho, como tive a honra de ser criança; novo; maduro. Por acaso não é digno ter alcançado a velhice? Não é digno ter vencido o tempo e chegado até aqui?
Sobretudo, não sou um idoso - ou velho - de alma ou espírito jovem. Tenho a idade cronológica perfeitamente ajustada com com o todo, externa e internamente. Não acredito em idade híbrida. As nominatas não livram o ser humano dos efeitos naturais do tempo.
... ... ...
Respeite autorias. É lei
fui o escolhido para conhecer o que acontecia na terra que eu nascia, mas as músicas altas e o cheiro da comida fria tomaram meus sentidos afiados e cessou a minha velha calmaria. parecia ter vindo de longe, não era desse país, aquele em que se escondiam em bancadas hostis mas desejavam assim como a do chico buarque: aquela lei que a gente era obrigado a ser feliz. e voando bem alto, assim como eva, escolheram que hoje o sol não apareceu, escolheram não ver a preciosidade da terra que você nasceu, escolheram definir que daqui só geram capitais, não é nessa nave que vamos fugir para outros ideais (se você considera os seus como banais). gilberto cantava sobre o brasil do meu amor, terra de nosso senhor, mas djavan recitou que amar é quase uma dor.
na voz da elis, "o Brazil está matando o Brasil, o Brasil nunca foi ao Brazil" porém nos olhos dele brilha um profundo azul anil. a grama do vizinho é sempre mais verde, mas essa grama já acabou pois a renderam para o mercantil, fabril. não dão valor àquele povo gentil, "i love Brazil". nossas cores se tornaram um símbolo político, imbecil. os donos dessa terra foram calados, pau-brasil.
cazuza dizia que era só mais um cara, que via futuro repetir o passado, e nunca notaram que o tempo não pára. tim maia torcia para que o mundo inteiro lhe pudesse ouvir sobre os sete mares que chegou a descobrir e de lá, me contou que todos notaram o quanto somos o raio de sol, união numa partida de futebol, a aquarela do céu, o azul do mar, o verde da floresta, a cultura divina, a energia dos barzinhos de cada esquina. essa nave vai pra longe e se tanto a preferem, colham dessa horta, mas até eles viram a quantidade de beleza que esse país conforta.
seria mais fácil se conhecesse: a energia dos estádios quando um gol acontece, a diversidade imensa no florão da américa, às belezas que os quadros da tarsila expressa, jeitinhos que nunca serão iguais à esse, cervejinha no copo dançando um pagodão, alegria quando o funk movimenta a nação, toda forma de cor e de amor que se expresse e o orgulho quando a nossa bandeira cresce, talvez assim, entenderiam a importância de gostar do Z, mas também de dar valor ao nosso S.
fui eu quem te disse:
"oh! cupido, vai longe de mim"
assim como celly campello,
mas você decidiu me acertar
e desenhar alguém que me desejaria
como quem se divertia com um novelo.
sempre fui mais azul,
apesar de um dia ter sido breu.
hoje sou edição limitada, peça única do museu,
quem deixou de falar comigo foi quem perdeu,
bebendo cada lágrima de quem por mim sofreu.
portas, corredores, luzes quadradas,
percorrendo pelo teto,
já não caibo onde um dia, já fui completo.
quarta letra do alfabeto, o seis da chamada,
chute na barriga, "criança mimada",
livros nas costas, bicicleta na calçada,
medo de ser adulto, levando flechada.
cresci demais: sou meu produto, meu objeto,
meu próprio vício (e de outras também),
shiu... conta nada, pra ninguém.
investindo em cada projeto, discreto.
falando: irônico mas papo reto, direto.
em silêncio, aclamado por palmas caladas
pois meu maior público vem de visualizações abafadas.
nunca estou pronto para nenhuma fase da vida?
não vim com manual de instrução:
você criou meus nomes, mas não minhas carreiras,
apenas o dono de casa sabe onde ficam as goteiras,
as cascas de banana escondidas procurando as respectivas lixeiras,
segurando nas estribeiras.
me entendendo entre caim e abel,
correndo entre as salas iguais desse hotel,
perseguindo como uma cascavel
gritando que meu talento se comprova só com uma folha de papel
de qualquer curso batido de universidade;
já sou crescido demais para saber a minha vontade.
nunca gostei de caminhos comuns,
sendo aqueles que vocês nunca valorizam,
me mostro ao mundo com pequenas conquistas, recebo o nobel
porém para vocês sigo na construção da torre de babel,
e como já contei antes, não adianta:
eu já fiz minha subida ao céu.
mil talentos, multifuncional
julgado por eu ser o meu próprio par ideal,
ainda não é mundial, meu hobbie está local,
já que dias f0das nunca serão esquecidos,
pois os elogios de fora são os mais floridos,
os que nunca me viram,
os que admiraram o meu coração e cérebro récem-nascidos.
tudo é sensível aos meus sentidos,
tudo mudou, essa vontade me expressar nunca passa,
como tarantino: não espere por nada, simplesmente faça.
das quatro paredes do meu quarto, a mente se divide em uma casa inteira,
cada cômodo se torna maior que qualquer coroa ou mérito que me consagre,
a partir de hoje, sou um santo de casa que / ainda não / faz milagre.
já não caibo onde um dia, já fui completo.
quarta letra do alfabeto, o seis da chamada,
chute na barriga, "criança mimada",
livros nas costas, bicicleta na calçada,
medo de ser adulto, levando flechada.
não choro mais no banheiro,
na vida passada fui um grande guerreiro
que para perguntas idiotas, entrego respostas imbecis:
um dia vou dar orgulho ao meu país,
porém duvido que quando a morte chegar, eu esteja vivo,
entregue a tudo o que vou ser e sou:
me resulto do dia em que algo quase me matou,
mas nunca vai achar onde me deixou.
NÃO ME ESPERE
Não espere por mim, fui jogar as cinzas no mar e celebrar a um renascimento.
Fui acender um inceso e pedir ao universo que receba quem parte e que fortaleça quem acaba de chegar.
Não espere, apague a luz e feche a porta... não irei voltar e ouvir lamentos e promessas manipuladoras.
Não espere nem um minuto, estou concluindo o download de atualização da nova versão de mim que você iniciou ao me magoar.
Se desejar, guarde as lembranças do que conseguiu desconstruir com a toxicidade que lhe caracteriza
e a certeza que jamais fará parte do que forjou com sua passagem furaconica.
Não espere um abraço de despedida ou mesmo um aperto de mãos, se o que merece é a distância que te apaga na linha do horizonte.
Não perca mais tempo esperando por algo que irresponsavelmente despedaçou e deixou de existir
Eu vivi. E valeu a pena. Encontrei o amor. Amei e fui amado. Evoluí através da dor. E cresci até onde minha maturidade permitiu. Morro incompleto e imperfeito, mas satisfeito.
"Fui tolo, achei que minhas palavras, fariam dos meus sonhos, realidade.
Achei que minhas ações, trariam aos meus braços, a minha eterna saudade.
Pensei que seu sorriso calmo, traria ao conturbo da minha vida, alguma serenidade.
Novamente, os sinônimos tornaram-se um, fundiu-se o Famigerado à leviandade.
O tempo urge, o relógio me açoita a alma, com cada tic tac, tic tac.
Cada segundo, sem o negror do seu olhar, parece-me uma eternidade.
Quando em seu abraço, sob o julgo dos seus lábios e embebido da voz, a tranquilidade.
Meu algoz, parece parar, mas ainda sim, ele passa tão rápido: O correr do tempo, ao lado de quem se ama, é punição divina, pra de outras vidas, iniquidade.
Deus, me faz de exemplo, do mais alto céu, ri da minha desgraça, da minha jocosa calamidade.
Ora, como não revoltar-se?
Sabendo ele do que sabe.
Sabendo que sou o puro pecado, um demônio em Terra, o próprio diabo, para me castigar, fez tu e a fez cruzar meu caminho, você, inalcançável ao meu eu, revestida de toda santidade.
Lembro do meu paraíso inalcançável, você embalada em meus braços, e a pele arde.
Queria ser ateu acerca do amor, mas infelizmente, venero-te, minha divindade.
Rogo, imploro aos céus, por um único beijo, para que eu me enterre e minh'alma descanse, por toda eternidade.
Parece que ninguém ouviu, Deus riu: Fui tolo, achei que minhas palavras, fariam dos meus sonhos, realidade..."
Daiane & Diane — a história de mim em mim
Durante muito tempo, eu fui Daiane.
Daiane com “i”, de intensidade.
Daiane, a que mordia o mundo antes que ele me engolisse.
A menina que aprendeu a se defender muito antes de aprender a se amar.
Eu tive que ser forte.
Tive que crescer rápido.
Tive que virar mulher quando ainda nem sabia ser menina.
Fui afiada, direta, racional.
Eu falava o que pensava — sem pensar no que o outro sentia.
Não porque eu era má.
Mas porque eu não sabia como cuidar sem me machucar.
Daiane era inteligente, sedutora, estrategista.
Ela sabia sair de qualquer lugar —
mas não sabia ficar em nenhum.
Ela conquistava tudo, menos o direito de descansar.
Ela era potência pura…
mas se sentia sozinha demais para ser verdade.
Até que um dia, em silêncio, ela começou a cansar.
E foi aí que, sem fazer alarde, nasceu Diane.
Diane com "e", de essência.
A mulher que brotou da menina ferida.
A que não precisou apagar a dor,
mas resolveu transformá-la.
Diane é quem eu sou agora.
Não perfeita. Não pronta.
Mas mais leve.
Mais doce.
Mais inteira.
Eu não deixei de ser Daiane.
Só deixei de lutar contra ela.
Hoje, eu abraço.
Hoje, eu acolho.
Hoje, eu escrevo.
Porque escrever me ensinou a sentir sem medo.
Me ensinou a dizer com beleza o que antes eu dizia com dureza.
Me deu a chance de amar sem implorar.
E de me amar sem armadura.
A menina virou palavra.
A mulher virou ponte.
Entre o que fui e o que escolho ser todos os dias.
Eu sou Daiane quando preciso lembrar de onde vim.
E sou Diane quando escolho para onde vou.
No fundo, continuo sendo uma só:
essa mistura de cicatriz com luz,
de silêncio com verbo,
de lágrima com poder.
E hoje, no dia do renascimento,
eu não celebro só o que nasce —
eu celebro o que, dentro de mim, deixou de fugir e escolheu permanecer.
CARTA PARA A DIANE QUE EU FUI
por Diane Leite
Diane, eu sei que você está cansada.
Eu sei que sorri para não preocupar ninguém, que aceita convites por medo do silêncio, que escuta absurdos e finge que não sente.
Eu sei que você está em lugares que não fazem seu coração vibrar, rodeada de pessoas que não escutam suas entrelinhas, e que mesmo assim, você tenta.
Você tenta se adaptar, tenta caber, tenta ser menos, tenta não assustar ninguém com a sua intensidade linda.
Mas deixa eu te contar uma coisa que você ainda não sabe: você não nasceu para caber.
Você nasceu para ocupar.
Para ocupar o espaço com a sua verdade.
Para preencher o mundo com sua sensibilidade, sua entrega, sua força e suas palavras.
Você ainda vai entender que não está errada por não gostar da noite, por preferir silêncio à festa, por querer conversa profunda ao invés de euforia passageira.
Você ainda vai perceber que não precisa mais se anestesiar, nem com comida, nem com distrações, nem com relações vazias.
E quando essa ficha cair… vai doer.
Mas vai libertar.
Você vai descobrir que o vazio que sente não é falta de alguém — é falta de si mesma.
Vai entender que as roupas que usa não estão erradas, mas os cenários sim.
Vai perceber que o seu corpo gritava há tempos, mas você tapava os ouvidos por medo de escutar.
E tudo bem.
Você estava sobrevivendo.
Mas um dia, você vai parar.
Vai se olhar no espelho com 102kg de dor acumulada, com a alma cansada de tanto ser o que esperavam.
E vai escolher voltar.
Não para o mundo — para você.
Vai se trancar por meses, sem precisar dar explicação a ninguém.
Vai chorar, rir, escrever, sentir, silenciar.
Vai revirar gavetas antigas da alma e reencontrar sonhos que você mesma escondeu.
E então, minha querida…
Você vai renascer.
Vai aprender a dizer não.
Vai deixar de ser simpática para ser sincera.
Vai parar de se doar para jardins que nunca floresceram.
E finalmente, vai perceber:
a sua vida não precisa ser uma vitrine, ela precisa ser um lar.
Hoje, eu — a Diane que nasceu depois de você — escrevo com gratidão.
Porque foi sua coragem de continuar, mesmo sem saber para onde ir, que me trouxe até aqui.
Você tropeçou, se confundiu, se perdeu… mas nunca se apagou.
E agora, eu vivo por nós duas.
Com voz firme, coração calmo, e alma livre.
Obrigada por ter aguentado tanto.
Agora pode descansar.
Eu cuido daqui.
Com amor,
Diane — aquela que você sonhou ser, mas nunca imaginou que seria tão linda assim.
"Fui ficando em pedaços…"
por Maycon Oliveira – O Escritor Invisível
Fui ficando em pedaços,
mas ninguém notou.
Sorri pra não assustar,
mas por dentro… já era só dor.
Falei que estava tudo bem
mil vezes,
e em todas,
esperei que alguém ouvisse o silêncio
por trás da mentira.
Ofereci o melhor de mim
a quem mal sabia lidar
com o pior de si.
Fui abrigo pra gente
que nunca me deu teto.
Colhi espinhos
de flores que reguei com fé.
Chorei noites inteiras
por amores
que dormiram em paz sem mim.
E mesmo assim,
eu continuei…
remendando meu coração com esperança,
na esperança tola
de que amar valesse a pena.
Esse poema foi escrito por Maycon Oliveira – O Escritor Invisível, autor do perfil ‘O_Escritor_Invisivel’ no site Pensador.
Se me deixares, eu te digo...
Que neste mundo de enganos...
Eu não fui enganado...
Mas tive contigo um bom tempo...
E neste tempo fui amado...
Mas tenha para comigo...
Assim como terei para contigo...
Somente boas lembranças...
E de um novo recomeço...
Que agora, com fé, persigamos...
Falei e tudo fiz de quanto amei...
Das coisas que recebi e também dei...
O sonho passa...
E após a insistente dor...
Novos sentimentos nascem...
Se tanto me dói que as coisas passem...
É porque cada instante em mim foi
muito vivo...
E o tempo já passado...
Por nós nunca seja esquecido....
Sandro Paschoal Nogueira
Fui ensinada a levar os golpes sem reclamar. Meu erro foi achar que isso impediria mais golpes. Eles nunca param.
Eterna turista
Fui de muitas famílias, como folhas ao vento
Passando de casa em casa, buscando um momento
Cativar corações, meu desejo profundo
como a luz do sol que ilumina o mundo
Mesmo sem raízes, sempre volto ao início
recomeçando a dança, em um novo feitiço
Sou uma lembrança, como estrela no céu
brilho em cada vida, um suave véu
Aceitei ser turista na terra do sentir
Uma onda passageira que vem e faz sorrir
Mesmo longe no espaço, tão perto na essência
deixo marcas sutis, como a brisa da presença
Entrego-me por inteiro, como o sol ao amanhecer
com intensidade de querer tudo viver
A vida é um quadro pintado em cores vibrantes
faço todos se sentirem especiais e importantes
como a luz que ilumina a sombra da dúvida
Sou um riso discreto que dissolve a amargura
Sem alarde ou pressa, sou uma poeta em ação
aproveito cada instante como se fosse canção
E quando a hora chega de partir para o além
Levo comigo o amor que plantei também
pois em cada despedida, uma nova flor brota
E assim sigo viajando na alma que se nota
Teve um tempo em que eu me perdi…
tentando caber onde nunca fui bem-vindo.
Me doei esperando migalhas…
e confundi amor com resistência à dor.
Mas o tempo me ensinou…
que amor de verdade não pesa.
Que presença não se implora…
e que quem quer, prova.
Hoje, eu não insisto mais onde falta entrega.
Não me diminuo pra caber.
Não imploro pra ficar.
Se quiser estar ao meu lado…
que seja pra somar.
Porque depois que a gente se encontra…
entende que metade… nunca mais será suficiente.
