Fria
"Entre o Tempo e a Distância"
Eles se conheceram numa tarde fria de outono, quando o acaso parecia conspirar a favor de um encontro que mudaria tudo. Sofia, com sua alma livre e olhar sonhador, cruzou o caminho de Miguel, um homem silencioso, com um mundo guardado no peito, daqueles que carregam histórias nas entrelinhas do silêncio.
Desde o primeiro olhar, souberam que havia algo ali — uma ligação invisível, intensa, como se tivessem se encontrado antes, em algum lugar além do tempo. Não demorou para que as conversas virassem noites, os passeios virassem memórias e os abraços se tornassem abrigo. Não precisavam de promessas; o sentimento era evidente em cada gesto, em cada palavra não dita.
Mas a vida, com sua maneira implacável de provar a força das coisas, colocou um obstáculo intransponível entre eles: Miguel carregava uma responsabilidade que não podia abandonar, uma família que dependia dele, raízes que o prendiam a uma cidade que Sofia não poderia chamar de lar. Já ela, era feita de movimento, de sonhos que a levavam para longe, de uma carreira que a fazia mudar de país a cada ano.
Por muito tempo, tentaram acreditar que o amor seria suficiente para segurá-los, que resistiria à distância, ao tempo e às ausências. E, de fato, resistiu — mas não como eles queriam. O sentimento cresceu, ficou mais maduro, mais silencioso, mas também mais dolorido.
Em uma despedida que nenhum dos dois queria dar, sentados em um banco à beira do rio onde costumavam caminhar, eles se olharam pela última vez como quem segura o mundo nas mãos, mas sabe que não pode carregá-lo para sempre.
— “A gente se ama, mas não basta, não é?” — perguntou Sofia, com a voz trêmula.
Miguel segurou a mão dela, apertou forte e respondeu:
— “Às vezes o amor não é pra ser vivido, é só pra ser sentido... e lembrado.”
E assim foi. Eles seguiram caminhos diferentes, construíram vidas em que o amor entre eles não coube, mas também nunca morreu. Era aquele tipo de amor que ninguém mais entendia, silencioso, eterno, escondido entre as dobras do tempo e da memória.
Sempre que olhavam para o céu em noites frias, pensavam um no outro, sabendo que, apesar de estarem longe, haviam encontrado, ao menos uma vez, aquilo que muitos passam a vida toda procurando: um amor verdadeiro, ainda que impossível.
DIA DE FRIO NO CERRADO (soneto)
A manhã de nevoa branca e fria
num úmido dia, e tão invernado
em maio nas bandas do cerrado
embrulhado pela geada ventania
Ruflante folha, em triste romaria
e a garoa, em um tom enxarcado
num bale, do inverno anunciado:
faz frio, frio que frio no frio viria
Arfa no peito este frio ardente
achega no cobertor cavaleiro
é frio que sente, e mais sente
Vergado, olhar gelado, cordeiro
ó dia de frio no cerrado, gente
escasso ao sertanejo costumeiro!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
29 maio, 2025, 169’29” – Araguari, MG
Frente fria
O Luar
Em uma noite fria, o luar aceso, tua pele a minha, um desejo.
Em um abraço que aperta, o tempo que para, em cada beijo que incendeia a alma rara.
Sobre o brilho prateado que nos cerca, nossa paixão se entrega.
Um amor que arde intenso e sem fim, presente eterno não só pra mim.
No abraço que nos funde, sem freio e sem pudor, sinto a brasa acesa do nosso amor.
Nossos lábios se entregam em beijos vorazes, desvendando desejos, em chamas e em fases.
Que o mundo se esqueça, que o tempo se perca.
Nessa dança que seduz, somos fogo e desejo sobre a Luz
SAUDADES DE VOCÊ (soneto)
A saudade hoje me acordou
Com a solidão de tua voz
Nesta manhã fria que abortou
Uma dor dilacerante e feroz
Suscitou a ternura do teu beijo
Na ausência do teu triste olhar
Anoitado no solitário desejo
Dos carinhos em nosso amar
Alvoreceu os antigos sentidos
Dos abraços por nós já partidos
Amarelados nos tempos antigos
Pra tal, alegou a minha razão
Nossos segredos em inspiração
Poesia que foi a nossa paixão.
(Saudades de você.... Arranha o meu coração).
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
Maio, 14/05/2010, 08’07” - Rio de Janeiro, RJ
Laranjeiras
Bom Dia, Xiluva Xanga (Minha Flor)
Bom dia, Xiluva Xanga,
Nesta manhã fria, o sol já brilha.
Mas o meu coração, cheio de saudades, chama-te,
A procurar o teu calor, a tua maravilha.
És a minha flor, a mais bela do meu jardim,
Perfume e cor que a minha vida alegra.
Sem ti, a nossa cama ficou tão grande e fria, assim,
E a insónia, sem o teu abraço, me apega.
Não consigo dormir só, meu amor,
É o teu toque, o teu cheiro, a tua paz que anseio.
Volta logo, Xiluva Xanga, por favor,
Para preencher o vazio e o meu peito cheio de saudades.
Volta, meu amor, que o dia já se ergue,
A aguardar o teu regresso e a tua presença.
Bom dia e agradável quarta-feira, minha querida,
Um beijo do teu amor, que te espera com veemência.
aquele medo e o desespero em meus dedos, uma sensação fria como se fosse me comer viva, eu chorava mas não queria, eu tentava parar mas não conseguia, me sentia uma criança numa caixa presa sem respostas para as perguntas que queria, me sentia sozinha que ´´pobrezinha´´ pensavam de mim, uma criança perdida em seus próprios pensamentos, preciso de ajuda, eu grito, eu choro mas ninguém me escuta, eu penso mas não falo, com medo daquelas marcas voltarem do meu passado.
Cai a noite e a noite é sempre um tempo que volta em meus versos. Cai uma noite densa e fria, refrescante. E acnoite hoje não me amedrontador. Acostumei-me com o seu jeito de estar no mundo. O coração está claro, sem grandes sobressaltos. E me despeço daquela dor antiga que me acompanhava como pertencente inerente do meu ser. Hoje sou contemplação e tenho as estrelas como companhia. Quando eu estou feliz eu não escrevo. Fica aquela impressão que vivo em estado de sofrimento. Mas hoje faz luz em meio peito e registro esse momento de serenidade, antes tão raro, mas hoje já uma presença constante. E agradeço, porque sei reconhecer. Cai a noite densa e sinto uma grande paz. Nada a pedir. Nada a ansiar. Somente sorver o momento presente, cada instante inerente, imanente, que sobre sobre o infinito. Sinto paz e a paz é por si só um poema.
Me sentindo perdido na escuridão
Como em uma noite escura e fria
Onde só se via escuridão e neblina
Então encontrei a luz
Essa luz tem um rosto e um jeito perfeito
Invadiu meu coração e não sai da minha mente
Sorriso que irradia, olhar penetrante
Abraço envolvente e um beijo ardente
Jeito manhoso e dengoso,
Misterioso e bondoso
Um brilho no olhar que causa inveja as estrelas
Mulher forte e delicada
Guerreira, mas uma dama honrada!
ÁG
Eu sou analítica, mas não fria. Sinto o que a maioria não percebe que nao sei como mas leio silêncios, interpreto entrelinhas e enxergo nuances que muitos ignoram. Vejo além dos gestos e questiono o que se cala. Carrego no peito um laboratório de dores que ninguém catalogou, feito de mapas mentais e cicatrizes emocionais, de hipóteses sobre o mundo e feridas que ainda não viraram tese.
Ser analítica não é uma escolha: é uma forma de existir, é medir a profundidade de um abismo com os olhos abertos e, mesmo assim, tentar atravessá-lo. Não se trata de falta de fé, mas de excesso de percepção, é saber que um sorriso pode mentir e que um toque pode calar, é doer no ponto exato onde os outros passam batido.
Ser analítica me custa noites mal dormidas, me leva a refletir sobre o que ninguém disse, me faz questionar até os próprios sentimentos, mas também me salva dos enganos que machucam sem nome, é viver entre o sentir e o pensar, entre o racional e o sensível, como quem caminha sobre uma linha fina entre dois mundos.
No fim, ser analítica é existir com lupa em um mundo que prefere o raso, é doer com consciência, é amar com profundidade. É viver mesmo que doa com verdade.
Fé e Ciência...
(Autor: Múcio Bruck)
A madrugada fria me afligia
Insone, vigiando o sofrer
De minha amada, acamada
Inquieta, delirante, febril
A vela queimava aos pés
Do Santo de minha Fé
Rogando por um milagre
Pela cura, fim de minha angústia
Leigo e só, diante das dores
Impotente, sofrendo pelo que via
Me veio à lembrança a frase:
"Faça a tua parte que farei a minha"
Peguei álcool e pequenos retalhos
Água morna e uma pequena bacia
Havia esquecido do antifebril
Há muito guardado no velho alforge
Misturei atitude, Fé e ciência
Desejos de agir pela comoção
Que em desespero despertava o pranto
A febre cedeu, a Fé e a ciência venceram
Doce e alcoólatra como vinho.
Nesse cenário,
asfalto molhado, noite fria.
Luzes acesas, prédios altos.
A cidade cheira a cigarros e vícios.
Essa fumaça exala promessas falsas
e cá estamos nós,
em meio a palavras explícitas
e situações formais.
Me disse que sou diferente,
apesar de nossa diferença de idade.
Esse é um mundo de artistas,
nós somos artistas consequentes.
Falando em arte,
seja minha musa?
A última não valorizou os traços que nela realcei.
Percorreria seu corpo a lápis ou pincel,
te deixo escolher.
Só promete sussurrar a sua resposta,
não como promessas falsas que nos têm.
Sussurra.
Minha mente tá barulhenta demais,
mas eu juro que, se for você,
eu vou conseguir escutar.
Ofício Solar
A noite é fria, e o frio fustiga o vão
Onde o coração, sem eco, jaz no chão:
Um cálix sem licor, um braseiro apagado,
Um árido silêncio, desolado.
Mas eis que a pálida aurora, em seu labor,
Fende a mortalha do noturno horror.
O Sol — cíclope eterno, forja em chamas —
Tecendo o dia com douradas tramas.
Não mero fulgor que apenas vela a dor,
Mas alquimia sutil, um ato maior:
Transmuta o gelo em seiva, o vazio em vaso,
Onde a esperança, planta de tenro laço,
Desabrocha — não em júbilo feroz,
Mas em quieta alegria, como a voz
Da fonte que retorna ao seu leito antigo,
Da estrela que persiste no perigo.
Nasce o dia. Não como um grito vão,
Mas como o lume que a razão acende
Na escuridão. É o gesto que desfende
A vida do seu próprio abandono:
O sol, Vênus, a alba... É o eterno dom
De um novo tempo, um compassado som
Que diz: Em ti, a luz se refaz agora."
E o coração — vaso, crisol, forja ignora
O frio da memória, e aprende, enfim,
O ofício de ser luz, de ser jardim...
DESLEMBRAR (soneto)
Quando no verso deixar-te silenciado
Para habitar, por fim, a sensação fria
Em que nada mais no peito é agonia
Te peço que fique inerte no passado
Não mais quero o versar com poesia
Qual o rimar tinha sentido apaixonado
E o carinho tão latente e tão amelado
Ah, quero os versos sem essa profecia
Depois que te poetizar este apartado
A inspiração não mais terá saudade
E o cântico no sentimento será calado
A versificação terá então outra emoção
Em cada verso um reverso de liberdade
E o deslembrar o novo tom do coração.
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
14 julho 2025, 17’48” – Araguari, MG
Instinto de Aço
Na fria névoa da manhã sombria,
Surge a fera, moldada em valentia.
Olhos de brasa, alma em combustão,
Traz no peito a força da superação.
Não há espaço para lamento ou receio,
Ele avança — firme, sem devaneio.
A neve no rosto, cicatriz do caminho,
Prova que até no gelo se segue sozinho.
Encontre a maneira, rasgue a cortina,
Não há desculpa que valha a rotina.
Se o medo ladra, que ladre ao vento —
A coragem ruge no mesmo momento.
Quem vive na sombra, teme o luar,
Mas quem é forjado para lutar,
Sabe que o impossível é só disfarce…
Para quem se recusa a fazer parte.
noite fria
com ventos nas ruas cantando sem rima
uma mulher gelada e nua em plena rua
acenando a mão para o céu.
e o gelo caindo sobre o véu da noite
gelando-me a carne sem piedade
eM todas as noites frias, ficava contemplando serena
o frio, plantado na alma do ser que habita
as faces das nuvens cinzentas
queria ser fogo e esquentar a terra
mas cada vez mais me encolho
com receio de virar pedra...
...........
e vem o dia...
sem a dança do sol nos arredores dos montes...
ciça b. lima
( in "balada do inverno triste " do livro "só poemas" )
Leve contigo as tuas fantasias...a tua boca amarga e fria que já não me beija mais. Leve contigo as tuas melancolias,as tuas alegrias E o que poderia ser o mais Belo amor. .. Leve contigo as nossas noites de orgia,os nossos sonhos,as nossas poesias E tudo o que lhe causa horror. Leve contigo as nossas lembranças,as nossas esperanças, nossos planos bobos de criança,a tua infinita dor. Leve o teu sorriso e tudo mais que for preciso...- Não quero o teu favor!
DENTRO DE UM NOVO
ABRAÇO
A lua minha amiga
As vezes distante e fria
Até concordou comigo dando as mão para o nosso amigo Sol que
Trouxe o seu calor
E o seu amigo AMOR
me envolvendo novamente no manto da paixão pela vida !
No mundo enterrei bem fundo o passado enviando para o espaço
Sem ficar nenhuma cicatriz
Dentro da minha pequenina Fé minha vida eu refiz.
Abraçando o amor próprio
Construindo novos passos
Dentro de um novo abraço
Quero mais é ser feliz !!
#MariaFranciscaLeite ✍️
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