Frases de Thiago de Mello

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O seu trabalho não é a pena que paga por ser homem, mas um modo de amar e de ajudar o mundo a ser melhor.

O silêncio é um campo
plantado de verdades
que aos poucos se fazem palavras.

Esqueço sempre, mas o corpo lembra:
em breve
será dezembro.

Cresce a erva do tempo, devagar,
brota do chão
e me devora.

O corpo é um caminho:
ponte, e neste efêmero abraço
busco transpor o abismo.

O vento é o tempo:
sopra varre levanta lambe
desfaz o que foi feito.

Tendo a ser, mas pouco:
resta ainda um tempo
que me espera e reclama.

Velho pássaro, este mundo
dorme como um menino
e se renova cada manhã.

A ponte é um pássaro
de certeiro vôo: sua sombra
perdura na lembrança.

Que verdades conhecia o morto?
Quem estrangulou
sua palavra?

Não tenho um caminho novo. O que eu tenho de novo é um jeito de caminhar.

Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.

As Ensinanças da Dúvida

Tive um chão (mas já faz tempo)
todo feito de certezas
tão duras como lajedos.

Agora (o tempo é que fez)
tenho um caminho de barro
umedecido de dúvidas.

Mas nele (devagar vou)
me cresce funda a certeza
de que vale a pena o amor.

Fica decretado que o homem não precisará nunca mais duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem,
como a palmeira confia no vento;
como o vento confia no ar;
como o ar confia no campo azul do céu.

Thiago de Mello

Nota: Trecho do poema "Estatutos do Homem"

Decreta-se que nada será obrigado
nem proibido,
tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela.

Só uma coisa fica proibida:
amar sem amor.

O mar, sempre desperto,
na verde espera
da barca mensageira.

Estatutos do Homem

Artigo VIII

Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água
que dá à planta o milagre da flor.

Botão de Rosa

Nos reconcavos da vida jaz a morte
Germinando no silêncio.
Floresce como um girassol no escuro.
De repente vai se abrir.
No meio da vida, a morte jaz profundamente viva.

Sei que sou pouco e que sei pouco.
Mas dentro do pouco que sei e que sou
me dou por inteiro.
Mesmo sabendo que nunca verei o homem
que gostaria de ser.

Quem não sonha o azul do vôo, perde o poder de pássaro. É sonhar, mas cavalgando o sonho e inventando o chão para o sonho florescer.

Thiago de Mello
Vento geral, 1951-1981