Escola Solidária - Um sonho possível... Gabriel Chalita

Escola Solidária - Um sonho possível

Diversas são as formas, as cores e as intensidades da dor e da miséria humanas. É muito difícil compreendê-las e, principalmente, vivenciá-las. É tarefa árdua também concebê-las e desenvolvê-las por meio da ficção. Missão possível apenas aos grandes gênios da arte. Na literatura, temos exemplos magníficos de escritores que fizeram uso da pena para nos comover de forma arrebatadora, transportando-nos a universos paralelos aos quais, na maioria das vezes, só poderíamos ter acesso graças às tramas e às personagens de seus clássicos. Émile Zola, com Germinal, Victor Hugo, com Os Miseráveis, José Saramago, com Levantado do Chão e Graciliano Ramos, com Vidas Secas, são alguns dos mestres capazes de nos conduzir de forma eficaz rumo a essas experiências de pura transcendência. Lendo essas obras, aprendemos mais sobre a vida na medida em que saímos da zona de conforto em direção ao desconhecido. É quando despertamos de fato. Nisso residem a grandeza e a beleza da arte. Entretanto, na época em que vivemos, a dor e o sofrimento estão cada dia mais explícitos, mais "naturais" e menos literários. E, como a grande maioria das pessoas não têm a genialidade dos grandes artistas para purgar as tristezas do mundo, criando obras-primas, precisamos encontrar caminhos alternativos para amenizá-las ao máximo. E a solidariedade é um deles. Sendo assim, é essencial sabermos que a solidariedade está fazendo escola no Brasil. Dados da ONU revelam que o País já possui um exército de 14 milhões de trabalhadores voluntários. Em sua maioria, esses brasileiros dedicam em média um dia e meio por semana ao voluntariado. Os trabalhos voltados à educação correspondem a 16% do total dessas ações. O número de jovens envolvidos com essas atividades cresceu de 7% para 34%. A Secretaria de Estado da Educação de São Paulo acredita que a escola, por meio de uma educação voltada à cidadania, pode ampliar ainda mais o número de pessoas ligadas a essas atividades. O trabalho pedagógico direcionado à conscientização dos estudantes em relação à solidariedade e às diversas formas de a manifestar pode atingir um enorme contingente populacional, conforme esses alunos se tornam agentes multiplicadores desses conceitos. A escola é um centro de luz e, como tal, precisa gerar mecanismos capazes de iluminar os caminhos e o futuro da sociedade. Temos de dar aos nossos aprendizes a possibilidade de serem os refletores e os condutores de novos e melhores tempos. Nesse sentido, nosso grande desafio é aproximar, cada dia mais, a comunidade da escola, estimulando a interação democrática entre alunos, pais, funcionários e toda a população de seu entorno. Dessa forma, o aluno poderá se envolver na concepção e no desdobramento de numerosos projetos, por meio de um comportamento pró-ativo, responsável e cooperativo. Esse é motivo pelo qual daremos início à abertura gradativa das escolas da rede estadual de ensino nos finais de semana, de maneira que os moradores da região tenham acesso aos conceitos implementados pelas escolas cidadãs. Os primeiros passos para a concretização dessa realidade já foram dados, com o projeto Parceiros do Futuro e com a recente assinatura do termo de parceria entre a Secretaria de Estado da Educação e o Instituto Brasil Voluntário - Faça Parte. O acordo visa instituir o programa estadual Jovem Voluntário-Escola Solidária em toda a rede. A iniciativa tem como alvo os alunos da educação básica e objetiva estimular projetos e ações voluntárias nas escolas. Para atingir essa meta, várias ações serão desencadeadas, como a articulação de alianças com organizações sociais que já atuam ou possam colaborar com a implementação, divulgação e viabilização do programa; mobilização da opinião pública para a importância da escola como espaço privilegiado para promover o protagonismo juvenil e ampliação de oportunidades e estratégias que facilitem a inserção voluntária e responsável dos jovens em atividades socioculturais na própria escola e também em outras instituições de sua região. Assim deve ser encarada a educação: como um milagre que possibilita a concretização dos sonhos. Nosso trabalho e a determinação em exercê-lo são frutos da crença de os poder tornar realidade.


Publicado no jornal Folha de S. Paulo