JUVENTUDE:PROBLEMA OU SOLUÇÃO Essa é... Gabriel Chalita

JUVENTUDE:PROBLEMA OU SOLUÇÃO

Essa é uma das características do jovem: a disposição para a mudança. Essa inquietação faz com que sua rebeldia esteja a serviço de causas significativas ou de instrumentos de destruição. O jovem tem potencial para transformar, inovar, ousar. Sua criatividade ainda não mora no mundo dos vícios. É o doce sabor da novidade. Por outro lado, tem o jovem o poder de destruir a si mesmo e ao outro.
O Brasil tem, entre seus 157.447 detentos em presídios, 62% de pessoas com idade entre 18 e 29 anos, segundo dados de maio de 2006, do Departamento Penitenciário Nacional. Agente e vítima da violência, transforma-se o jovem em problema. Transforma-se, porque não é. O jovem é solução. Precisa apenas de espaço, de oportunidade. Precisa de esclarecimento, que o filósofo Immanuel Kant chama de saída do homem de sua minoridade, que é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo, sem dependência, e com autonomia. E, para isso, precisa esse jovem de educação.
A educação está deixando a desejar. O gasto nacional (4,15% do PIB em 2002), perto da imensa demanda de qualidade, acesso e permanência, é pequeno. Segundo dados do IBGE, há 12,3 milhões de jovens entre 14 e 17 anos fora da escola. Como o país demorou a adotar uma política de Estado para a universalização do ensino fundamental, acumulamos esse déficit. Foi só na gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso que o esforço foi efetivo: elevamos de 88% (1994) para 97% (2004) o percentual das crianças matriculadas da 1ª até a 8ª séries. Mas restou e resta o desafio do ensino médio. Apenas 30% desses alunos passam do ensino fundamental para o médio. Nos últimos anos, não foram corrigidas essas questões, alegadamente por falta de aprovação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica, o Fundeb. A participação do governo federal é muito pequena no financiamento da educação básica. Por isso, estados e municípios têm enormes dificuldades de pagar salário digno aos professores, agentes essenciais do processo educativo. Com um corpo docente mal remunerado, desmotiv ado e com poucas chances de formação, é difícil percorrer o caminho da qualidade. Embora professoras e professores desse imenso país se desdobrem na nobre arte de educar.
Pesa ainda a pouca consciência da família na relação com os jovens. Pais monossilábicos não conseguem dialogar nem orientar os filhos para a vida. Ouve-se pouco e fala-se o que não encontra eco. Um exemplo de política pública eficiente é a escola da família, experiência do governo Geraldo Alckmin, grande sucesso porque atua na escola e na família. Traz a família para a escola e dá oportunidade a quase 50 mil jovens de ingressarem gratuitamente em uma universidade. Além da impressionante redução da violência causada pela abertura desses espaços públicos para geração de renda, saúde, cultura e esporte. São Paulo tem ainda as melhores universidades públicas do país (USP, Unesp e Unicamp) e 125 Escolas Técnicas Estaduais que atendem mais de 90 mil estudantes - aliás a valorização dos cursos técnicos já é fato em países que conseguiram com seriedade desenvolver políticas educacionais.
O outro desafio ainda não enfrentado nacionalmente é a extensão da média de escolaridade. Dados coletados pela Unesco a cada década, de 1960 a 2000, mostram que todos os países da América Latina tiveram avanço nos níveis de escolaridade da população adulta - os dados descontam a defasagem idade/série. No Brasil, por exemplo, a média de escolaridade em 1960 era de 3,1 anos. Em 1970, subiu para 3,7, em 1980, para 4,3, em 1990, para 6,5 e chegou a 7,5 anos em 2000. Comparativamente, a Argentina, já em 1960, tinha a média de 6,1 anos, praticamente o que o Brasil alcançaria somente 30 anos mais tarde. A Argentina, hoje, chegou à média de 8,3 anos de escolaridade.
A educação é, no médio prazo, a garantia de menores problemas em outras políticas públicas. Uma juventude saudável, com acesso à educação, práticas esportivas e culturais, tem mais preparo e maior equilíbrio para ingressar no mercado de trabalho. Uma juventude com esse perfil será menos refém da violência, da drogadição, e estará pronta para se apresentar como solução para a construção de um país melhor.
Em efeitos secundários, reflete Woody Allen: "Somos um povo que necessita de objetivos definidos. Nunca aprendemos a amar. Precisamos de dirigentes e projetos coerentes."
Projetos coerentes que ofereçam espaço ao jovem para que ele não seja encarado como um problema, para que tenha conhecimento suficiente para construir a sua história. Projetos possíveis de serem realizados como a universalização do ensino médio, a política de qualidade em toda a educação brasileira e a parceria responsável entre governo federal, estados e municípios juntamente com a sociedade civil para que metas definidas como prioridade nacional em termos educacionais não tenha coloração partidária, mas sejam um projeto de Brasil. Um Brasil cansado de demagogia e factóides. Um Brasil carente de competência e de oportunidades. Essa é nossa linda juventude na poesia do mineiro Flávio Venturini, página de um livro bom. Ajudemos a escrevê-lo.