Prenda-se, mas mesmo amarrada, continue... Clara Furtado

Prenda-se, mas mesmo amarrada, continue solta, como nasceu, de coração leve e livre de pressões ou temor algum de desapegar-se do que atrase, atrapalhe, não compense ou tenha qualquer resquício de pretensão de te fazer algum mal.

Prenda-se, é permitido e não é ruim, mas não amarre-se totalmente, isso sim, é um tanto quanto perigoso. Entrelace-se ao Amor pelo outro da forma mais plena e harmoniosa, um nó apertado, mas não cego, intenso no coração, mas não a ponto de confundir e emburrecer a cabeça; um laço firme e, ao mesmo tempo, totalmente escorregadio, forte mas, tanto quanto, fácil de desatar, para que, ao menor sinal de 'amor' enganoso ou destrutivo, possa então soltar-se, libertar-se, com toda facilidade do mundo do que por instantes pareceu verdadeiro, apenas pareceu.

Entregue-se sem medo ou neuras, afinal, esse Amor pode ser, sim, realmente verdadeiro, o da sua vida e como tal deve ter todos os momentos bem vividos, mas cautelosamente, ele também pode perfeitamente não ser e sofrer jamais será imagem de felicidade.

Ame cegamente, mas só no modo de dizer, porque no fundo deve-se ter olhos bem arregalados e de excelente visão, daqueles que enxergam muito bem, porque ao contrário do que alguns dizem, o Amor não é cego e nem muito menos burro.

Ame intensa e profundamente, mas bem no raso e isso não quer dizer de forma superficial, diz apenas que é correto e esperto procurar enxergar sempre e atentamente o que acontece na superfície, do lado de fora das profundezas desse seu coração.

Ame, mas antes, ame-se.