O Alzheimer em Perspectiva Histórico... Marcelo Caetano Monteiro

O Alzheimer em Perspectiva Histórico Médica e Hermenêutica Espírita.
Autor: Marcelo Caetano Monteiro.

A história da enfermidade que a medicina contemporânea reconhece como Doença de Alzheimer tem início em 25 de novembro de 1901, quando Auguste Deter, então com cinquenta e um anos, foi admitida sob os cuidados do Dr. Alois Alzheimer no Hospital de Lunáticos e Epiléticos de Frankfurt. Aquele episódio, aparentemente discreto, inauguraria uma transformação profunda no campo da neuropatologia.

Proveniente de um lar protestante reformado, esposa dedicada e mãe de uma única filha, Auguste enfrentava, havia meses, perturbações cognitivas e emocionais que se intensificavam de modo alarmante. O que começou como ciúme exacerbado evoluiu para acentuada desorganização da memória, da crítica da realidade e do senso de orientação. Passou a caminhar sem destino por ruas familiares, a esconder objetos sem propósito, a demonstrar medo daquilo que não existia e, por fim, a gritar sob a convicção de que sua vida se encontrava ameaçada.

A degeneração avançou de forma inexorável. Nos estágios finais, encontrava-se confinada ao leito, privada da fala e do reconhecimento do próprio ambiente, sujeita a atrofias musculares, úlceras de pressão, incontinência e queda expressiva da imunidade. O desencarne sobreveio após cinco anos de progressiva deterioração.

A necropsia conduzida por Alzheimer trouxe revelações inéditas: acentuada atrofia do córtex cerebral, placas senis e emaranhados neurofibrilares. Em 1906, ao apresentar o estudo Uma Doença Peculiar dos Neurônios do Córtex Cerebral, o pesquisador abriu caminho para uma nova compreensão das demências, dando nome a um quadro clínico até então desconhecido.

Abordagem Espírita: Interrogações e Possibilidades.

No contexto espírita, o Alzheimer suscita reflexões de natureza filosófica profunda. Seria manifestação expiatória sutil, instrumento de aprimoramento moral, ou simples distúrbio biológico sem relação com causas espirituais? A Doutrina não oferece conclusões definitivas, mas convida ao diálogo entre ciência e espiritualidade.

Obras de André Luiz, psicografadas por Chico Xavier, e estudos da Associação Médico Espírita enfatizam a interação permanente entre espírito, perispírito e corpo físico. Em Nos Domínios da Mediunidade, observa-se que, assim como o organismo material pode ser intoxicado por elementos nocivos, o perispírito também pode absorver influências perturbadoras, cujas repercussões atingem a estrutura celular.

Sob esse enfoque, duas origens espirituais costumam ser apontadas com maior frequência.

A primeira é a obsessão, processo em que vibrações desarmônicas, persistentes e intensas, provenientes de entidades afinizadas com padrões inferiores, produzem desgaste energético capaz de repercutir no tecido cerebral. O cérebro, como sede material do pensamento, torna-se vulnerável a agressões desse tipo quando as ideias perturbadoras se repetem por longos períodos.

A segunda, considerada ainda mais comum, é a auto obsessão, fenômeno gerado no próprio espírito. Personalidades rígidas, orgulhosas, emocionalmente reprimidas ou marcadas por culpas profundas, muitas vezes originadas em existências anteriores, podem engendrar um processo de recolhimento compulsório. Nesse cenário, o esquecimento parcial se torna um recurso terapêutico destinado a favorecer reequilíbrios morais.

Ambos os mecanismos frequentemente se combinam, estabelecendo uma simbiose vibratória que amadurece ao longo de décadas. Essa longa gestação explica a predominância da doença na velhice, fase em que conflitos íntimos antigos encontram vias de expressão no organismo material.

Sentido Existencial da Enfermidade.

Independentemente da causa essencial, o Alzheimer se apresenta, à luz espírita, como oportunidade de crescimento. Pacientes e familiares reencontram-se para reajustes recíprocos, aprendizados compartilhados e fortalecimento de virtudes. Cabe ao cuidador, muitas vezes, desenvolver paciência, ternura e amor renunciante, valores previstos antes do retorno ao corpo físico.

Prevenção no Âmbito Material e Espiritual.

A medicina ainda não dispõe de recursos preventivos plenamente eficazes. Estudos, porém, demonstram que cultivo da leitura, atividades intelectuais, vínculos afetivos saudáveis, convivência social e movimento preservam circuitos neuronais e retardam o declínio cognitivo.

No campo espiritual, recomenda-se disciplina mental, prática constante da caridade, vida moral íntegra e cultivo de pensamentos serenos. Ideias elevadas atraem vibrações harmoniosas, fortalecendo o espírito e protegendo-o de distúrbios densos. Mantém-se atual, assim, o apelo do Evangelho: orai e vigiai.