*Verso que versa e reversa* Juvenil... Juvenil Gonçalves da Costa
*Verso que versa e reversa*
Juvenil Gonçalves
No terreiro do pensamento,
planto palavra e colho som,
se o vento venta sentimento,
a rima vira meu batom.
Na roça do verso lavrado,
cada som vira semente,
se o povo pensa calado,
o poeta fala diferente.
Quem ama arma alegria,
quem teme treme no chão,
quem sonha semeia poesia,
quem canta encanta o sertão.
O tempo tenta o repente,
mas o repente inventa o dia,
no peito do som fervente,
o verbo vira melodia.
O verso conversa e dispersa,
reversa e se reverte em flor,
na fala que fere e confessa,
a rima é remédio e é dor.
O poeta planta palavra,
palavra que lavra e lavra,
da lavra brota uma lavra,
que lavra o peito e não lavra.
O som assoma no monte,
a fonte afronta o luar,
quem mente sente na fronte
o peso leve de amar.
Se a lua é lume e alumia,
no lume o homem se alinha,
e a língua, límpida e fria,
lambe o lume e se aninha.
No fim, o fim é começo,
o avesso é verso e razão,
quem fala faz do tropeço
matéria bruta do chão.
Pois palavra é viva, é vento,
é semente, é instrumento,
quando o verso versa o tempo,
o tempo inversa o pensamento.
