A Balança e o Abismo: Uma Reflexão... AndrePViana

A Balança e o Abismo: Uma Reflexão sobre a Carreira do Advogado Criminalista
A advocacia criminal é, talvez, a mais visceral e incompreendida de todas as áreas do Direito. Ela coloca o profissional em um front de batalha diário, não apenas contra a acusação, mas frequentemente contra a opinião pública, o preconceito e, por vezes, contra a própria consciência. É uma carreira que exige mais do que conhecimento técnico; demanda uma estrutura psicológica robusta, uma empatia seletiva e uma crença inabalável nos pilares do Estado de Direito.
No cerne da atuação do criminalista está um princípio que, embora basilar para a justiça, é frequentemente esquecido pelo senso comum: a garantia do direito de defesa. O advogado criminalista não é um cúmplice do crime, mas um garantidor de que o processo legal será seguido à risca. Ele é a voz que assegura que, mesmo diante da acusação mais hedionda, o indivíduo não será esmagado pela força punitiva do Estado. Sua função é ser o guardião da presunção de inocência, do contraditório e da ampla defesa, princípios que protegem não apenas o acusado, mas toda a sociedade contra o arbítrio e a injustiça.
A carreira é um constante exercício de alteridade. O criminalista precisa se despir de seus próprios julgamentos morais para adentrar a complexidade da condição humana. Ele lida com o erro, a falha, o desespero e, em muitos casos, com a face mais sombria da sociedade. Para construir uma defesa eficaz, é preciso compreender as circunstâncias que levaram ao ato, as motivações do acusado e as nuances que a lei oferece. Isso exige uma imersão profunda em histórias de vida que, na maioria das vezes, são marcadas por violência, exclusão e falta de oportunidades.
O peso emocional dessa profissão é imensurável. A responsabilidade de ter a liberdade de alguém em suas mãos gera uma tensão contínua. As vitórias, como um alvará de soltura ou uma absolvição, trazem um alívio e uma satisfação ímpares. No entanto, as derrotas, as condenações e a impotência diante de um sistema por vezes falho, deixam cicatrizes profundas. O advogado criminalista está em uma arena de alta pressão, onde cada petição, cada audiência e cada sustentação oral podem selar o destino de uma vida.
Além disso, o profissional enfrenta o estigma social. Defender alguém acusado de um crime é, para muitos, sinônimo de compactuar com o delito. A incompreensão sobre o papel essencial do advogado na manutenção da justiça leva a julgamentos apressados e a uma hostilidade que poucos estão dispostos a suportar. É uma carreira solitária nesse aspecto, que exige uma convicção interna inabalável sobre a importância do próprio trabalho.
Em última análise, ser advogado criminalista é uma vocação para os corajosos. É caminhar sobre o fio da navalha entre a lei e a moral, entre a acusação e a defesa, equilibrando a balança da justiça em um terreno onde o abismo do erro judiciário está sempre à espreita. É uma carreira de sacrifícios e de imensas recompensas, não financeiras, mas de propósito: a de ser o último bastião da liberdade individual contra a força avassaladora do poder estatal.