“O ESPELHO PARTIDO DA VERDADE:... Marcelo Caetano Monteiro
“O ESPELHO PARTIDO DA VERDADE: Fragmentos do Infinito.
Narrativa Inspirada no Conto Sufi e na Filosofia Espírita.
Conta um antigo conto da tradição sufi, atribuído a diversas escolas do Oriente Médio, que a Verdade — em sua pureza integral — desceu à Terra e os homens não puderam contemplá-la em sua totalidade. Para que não se perdesse por completo, Deus partiu a Verdade como se fosse um espelho, e lançou seus estilhaços ao mundo.
Desde então, cada ser humano carrega em si um pequeno fragmento desse espelho divino, refletindo uma porção da Verdade, mas jamais o seu todo. Aqueles que tentam impor seu pedaço como sendo a totalidade do espelho, sem reconhecer os fragmentos que os outros portam, caem na ilusão do orgulho e da cegueira espiritual.
Esse conto — de origem oral e preservado em círculos místicos desde o século XIII ressoa de maneira profunda com a proposta filosófica e espiritual do Espiritismo. Allan Kardec, ao codificar os ensinamentos dos Espíritos Superiores, nos advertiu que a Verdade é progressiva, relativa à nossa capacidade de assimilá-la, e que nenhuma doutrina detém o monopólio da luz divina.
Fundo Psicológico e a Ciência da Verdade.
Do ponto de vista psicológico, a imagem do espelho partido evoca o conceito de percepção fragmentada da realidade. Cada indivíduo enxerga o mundo segundo sua história, seus traumas, sua cultura e, sobretudo, o grau de maturidade espiritual que possui. Como ensina a mentora Joana de Ângelis, “a verdade íntima se revela à medida que o Espírito se liberta das sombras do ego e desperta para sua realidade essencial” (Série Psicológica, Divaldo Franco).
A ciência moderna, especialmente nas áreas da neurociência e psicologia cognitiva, confirma essa limitação: nossa mente interpreta o mundo por meio de filtros emocionais e neurológicos. A própria ciência é um processo de construção da verdade por meio de hipóteses e refutações, em constante aperfeiçoamento. Assim, ela não afirma possuir toda a Verdade, mas busca compreendê-la gradualmente — como advertem os Espíritos elevados na Codificação.
Perspectiva Espírita:
Um Caminho de Integração.
O Espiritismo nos convida a reunir os pedaços desse espelho dentro e fora de nós, não por imposição, mas por educação da alma e do olhar. Allan Kardec declara com humildade na Revista Espírita:
“A verdade absoluta é privilégio dos Espíritos puros. A nós cabe aproximar-nos dela, pouco a pouco, pelo trabalho perseverante do pensamento e da moral.”
O verdadeiro espírita, assim, não se torna juiz da crença alheia, mas um aprendiz respeitoso, que escuta, compara, estuda, ora e ama.
O Tríplice Aspecto da Verdade no Espiritismo.
No Espiritismo, a Verdade se manifesta sob três pilares inseparáveis:
*Ciência, que investiga os fenômenos do Espírito com método, observação e racionalidade;
*Filosofia, que reflete sobre o sentido da existência, da dor, da evolução e da liberdade espiritual;
*Moral Cristã, que transforma o saber em ação, orientando o ser para o bem, o perdão e a fraternidade.
Cada um desses aspectos é um fragmento maior do espelho da Verdade, e só juntos eles permitem ver o reflexo da luz divina em nosso coração.
Portanto, cada vez que dialogamos com humildade, que escutamos sem impor, que estudamos sem orgulho, que perdoamos apesar da dor — estamos recolhendo silenciosamente mais um pedacinho desse espelho partido que é a Verdade.
E um dia, quando todos os fragmentos forem reunidos pelas mãos do amor, o espelho da alma se tornará novamente inteiro.