Relações e redenção na poesia Nunca... RENATO JAGUARÃO

Relações e redenção na poesia Nunca Mais Vendo Cavalos.


Nunca Mais Vendo Cavalos, de Renato Jaguarão, é mais do que uma simples narrativa poética: é um mergulho profundo no vínculo entre o gaúcho e seu cavalo, um laço que ultrapassa o aspecto material e utilitário da vida campeira. A canção relata o momento em que o protagonista decide vender seu cavalo de estimação, o picasso, levado por tradições, necessidades e pela ilusão do desapego — prática comum no campo. O verso “O meu rancho é a solidão!” revela que a separação não resulta apenas em ausência física, mas em vazio afetivo, deixando claro que o cavalo representava amizade, confiança e companhia.


A narrativa ganha ainda mais força quando, anos depois, o gaúcho reencontra o picasso, agora abandonado e doente. No trecho “Pedi licença pra morte e me cheguei sem alarde / Eu não creio em divindade, mas o milagre aconteceu”, transparecem a saudade, o arrependimento e a busca por redenção. O ato de resgatar o animal e prometer nunca mais vendê-lo simboliza não apenas a valorização da amizade e da lealdade, mas também o reconhecimento da importância de reparar erros passados.


A metáfora “vida é cerca tombada” sintetiza a mensagem central da obra: a existência é marcada por perdas, quedas e arrependimentos, mas também pela possibilidade de perdão e reconciliação — seja com o outro, seja consigo mesmo.


Renato Jaguarão