"Quando a Tarde Confessa... Rô Montano

"Quando a Tarde Confessa Silenciosamente" Há um instante, quando o sol se inclina e os contornos do mundo se acendem em brasa, em que a alma decide fa... Frase de Rô Montano.

"Quando a Tarde Confessa Silenciosamente"

Há um instante, quando o sol se inclina e os contornos do mundo se acendem em brasa, em que a alma decide falar. Não alto. Mas em sussurros. É nesse tempo suspenso entre a luz e a escuridão que me confesso ao céu — e o céu, generoso, não me interrompe.

Ali, no exato momento em que o dia se despede sem prometer retorno, despeço-me também das culpas que nunca ousei nomear. Revelo as saudades que ainda ardem, os afetos que não soube cultivar, as palavras que morreram na garganta, as esperas que jamais se cumpriram.

Falo baixinho com a luz que se deita. E ela me entende. Há uma linguagem no pôr do sol que só se aprende com o tempo: a linguagem do não dito, do que pulsa nas entrelinhas, do que escorre por dentro, sem ruído. O céu se tinge de confissões veladas — e eu, feito parte dele, também me pinto de verdade.

No crepúsculo, tudo parece mais leve — até mesmo o que mais pesa. É como se o coração encontrasse abrigo na paleta avermelhada do entardecer. Como se o mundo, por um breve segundo, aceitasse a imperfeição como forma de beleza.

E quando o sol, por fim, desaparece, não é o fim — é o início de um entendimento. O escuro não assusta quando o coração foi ouvido. Porque ali, naquela cena de despedida que se repete todos os dias, minha alma reencontra a paz... de simplesmente ser.