Futebol Europeu: marketing e... Maurício Junior

Futebol Europeu: marketing e monopólio…
O Mundial de Clubes, com sua vitrine global, tem, a meu ver, exposto uma faceta curiosa e talvez conveniente do futebol europeu. Observamos clubes, frequentemente alçados ao patamar de intocáveis por sua suposta excelência técnica, demonstrando uma notável fragilidade diante de condições que escapam ao seu ambiente meticulosamente controlado. É como se fossem atletas cultivados em estufas, habituados a um cenário de perfeição, e que, confrontados com a pressão de uma realidade mais crua, revelam uma inesperada vulnerabilidade. Essa percepção se intensifica quando imaginamos essas equipes em um contexto como a Libertadores, por exemplo. Duvido que muitos clubes europeus, se é que algum, conseguiria suportar a intensidade de uma partida na altitude, com a paixão avassaladora das torcidas sul-americanas e em campos que, nem sempre, são os impecáveis "tapetes" a que estão acostumados. É fácil prever que, nessas condições, muitos de seus jogadores recorreriam à equipe médica antes do apito final.
Essa mesma dinâmica, inclusive, pode lançar luz sobre a inconstância de desempenho de diversos jogadores brasileiros quando retornam para defender a Seleção Nacional. Acostumados com a infraestrutura de ponta, os gramados perfeitos e uma pressão diária, talvez, mais branda em seus clubes europeus, esses atletas frequentemente encontram um abismo ao retornar ao futebol sul-americano. Aqui, a intensidade é palpável, a marcação é implacável e a cobrança, tanto da mídia quanto das torcidas, atinge níveis estratosféricos. Essa transição do conforto europeu para a intensidade aguerrida do futebol daqui parece ser um fardo pesado para alguns, explicando a discrepância entre sua performance em clubes e na seleção.
Minha profunda desconfiança é que o futebol europeu, em sua essência, é uma obra-prima do marketing, meticulosamente construída ao longo das décadas. Um investimento colossal em publicidade, infraestrutura e promoção culminou na metamorfose da UEFA Champions League em um fenômeno global, quase um "campeonato mundial" não oficial. Essa percepção, embora possa ser uma ilusão magistral, é o pilar do sucesso comercial que os europeus colhem. É essa aura de "o melhor do mundo" que atrai os maiores patrocínios, garante os contratos mais vantajosos de direitos televisivos e, consequentemente, permite que os clubes ofereçam salários astronômicos a seus jogadores. Nesse palco, o valor de mercado de um atleta, especialmente aquele que já atua em solo europeu, atinge cifras que parecem desafiar a lógica, muitas vezes infladas não pelo seu talento intrínseco, mas sim pela colossal máquina de marketing que os envolve.
Historicamente, nós, sul-americanos, nos destacávamos pela pura técnica e a inata habilidade individual, enquanto os europeus eram reverenciados por sua disciplina tática, estratégias apuradas e um coletivo forte que os impulsionava a uma posição de destaque no cenário global. Essa combinação de estratégia, disciplina e organização, frequentemente complementada por talentos individuais notáveis – que, em sua esmagadora maioria, eram jogadores sul-americanos comprados a preço de "banana" – era a receita do sucesso. Ao vestir a camisa de um time europeu, esse mesmo talento ganhava um valor astronômico e, por vezes, um passaporte privilegiado para ser eleito o melhor do mundo. Afinal, é uma realidade inegável que, na prática, esse título ou a própria oportunidade de ser considerado para ele dificilmente se estende a jogadores que atuam em qualquer parte do mundo que não seja a Europa.
O título de melhor jogador do mundo, até hoje, é concedido exclusivamente a quem atua na Europa. Essa restrição, a meu ver, não apenas evidencia um esquema de favorecimento aos europeus, mas também cria um incentivo irresistível para que todos os jogadores talentosos do mundo queiram, e necessitem, atuar por lá. Curiosamente, num passado não tão distante, a maioria desses prêmios individuais era detida por sul-americanos, uma prova irrefutável do nosso talento inato e um grande chamariz para tantos sonhadores do nosso continente. Isso, obviamente, realimentava o ciclo de "colonização", onde nossos craques eram levados para o Velho Continente.
No entanto, com a inegável ascensão do futebol sul-americano no cenário mundial, não só em força técnica e tática, mas também em prestígio e, importantemente, financeiramente, tenho observado uma mudança sutil, mas perceptível. Agora, parece que há uma tentativa, quase que uma forçação de barra, para que esse título de melhor do mundo seja sempre atribuído a jogadores europeus. Em outras palavras, a estratégia pode ter mudado, mas a intenção primordial permanece a mesma: perpetuar a narrativa de que os europeus são, invariavelmente, os melhores.
Acontece que os times sul-americanos estão em plena ascensão, desenvolvendo administrações mais robustas, implementando esquemas táticos mais sofisticados e aprimorando sua disciplina em campo. Essa evolução notável é um reflexo direto do desenvolvimento de nossos próprios treinadores e, também, da crescente atuação de técnicos europeus e de outras nacionalidades no futebol sul-americano, especialmente no Brasil. Os resultados dessa transformação estão se manifestando claramente no Mundial, onde a "máscara" europeia parece estar sendo progressivamente arrancada.
A performance dos times brasileiros demonstra que, com disciplina e uma estratégia bem definida, aliadas aos nossos talentos individuais – que, em muitos aspectos, são infinitamente superiores aos europeus –, podemos reverter essa narrativa. Minha crença é que, se os clubes sul-americanos tivessem a oportunidade de disputar a UEFA Champions League, os europeus teriam que suar muito mais por esse título tão cobiçado. E, inversamente, se os europeus se aventurassem a jogar a Libertadores, com suas altitudes desafiadoras, as viagens extenuantes e todos os outros contratempos que a competição impõe, suas chances de sucesso seriam consideravelmente reduzidas. É hora de a verdade e a justiça virem cada vez mais à tona. Está na hora de deixarmos de ser meras colônias e, finalmente, assumirmos nosso merecido posto de protagonistas no cenário do futebol mundial.