Escusa ⁠Eurico Alves, poeta baiano,... Manuel Bandeira

Escusa ⁠Eurico Alves, poeta baiano, Salpicado de orvalho, leite cru e tenro cocô de cabrito, Sinto muito, mas não posso ir a Feira de Sant'Ana. Sou poeta da cid... Frase de Manuel Bandeira.

Escusa

⁠Eurico Alves, poeta baiano,
Salpicado de orvalho, leite cru e tenro cocô de cabrito,
Sinto muito, mas não posso ir a Feira de Sant'Ana.

Sou poeta da cidade.
Meus pulmões viraram máquinas inumanas e aprenderam a respirar O gás carbônico das salas de cinema.
Como o pão que o diabo amassou.
Bebo leite de lata.
Falo com A., que é ladrão.
Aperto a mão de B., que é assassino.
Há anos que não vejo romper o sol, que não lavo os olhos nas cores das madrugadas.

Eurico Alves, poeta baiano,
Não sou mais digno de respirar o ar puro dos currais da roça.

Manuel Bandeira Antologia poética. São Paulo: Global, 2020.