Frases de Manuel Bandeira

Cerca de 51 frases de Manuel Bandeira

Brisa

Vamos viver no Nordeste, Anarina.
Deixarei aqui meus amigos, meus livros, minhas riquezas, minha vergonha.
Deixaras aqui tua filha, tua avó, teu marido, teu amante.

Aqui faz muito calor.
No Nordeste faz calor também.
Mas lá tem brisa:
Vamos viver de brisa, Anarina.

Manuel Bandeira
BANDEIRA, M. Belo, Belo, 1948

Quero a delícia de poder sentir as coisas mais simples.

Manuel Bandeira
BANDEIRA, M, Estrela da Vida Inteira, Ed. Nova Fronteira

Nota: Trecho do poema "Belo Belo"

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Neologismo

Beijo pouco, falo menos ainda.
Mas invento palavras
Que traduzem a ternura mais funda
E mais cotidiana.
Inventei, por exemplo, o verbo teadorar.
Intransitivo:
Teadoro, Teodora.

Manuel Bandeira
BANDEIRA, M., Meus poemas preferidos, São Paulo: Ediouro, 2002

O Bicho

Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.

Manuel Bandeira
Belo Belo, 1948

Cantiga

Nas ondas da praia
Nas ondas do mar
Quero ser feliz
Quero me afogar.

Nas ondas da praia
Quem vem me beijar?
Quero a estrela-d'alva
Rainha do mar.

Quero ser feliz
Nas ondas do mar
Quero esquecer tudo
Quero descansar.

(Estrela da Manhã)

Manuel Bandeira
BANDEIRA, M., Estrela da Manhã, 1936

O Impossível Carinho

Escuta, eu não quero contar-te o meu desejo
Quero apenas contar-te a minha ternura
Ah se em troca de tanta felicidade que me dás
Eu te pudesse repor
-Eu soubesse repor_
No coração despedaçado
As mais puras alegrias de tua infância!

Manuel Bandeira
Os Melhores Poemas de Manuel Bandeira, de Org. Francisco de Assis Barbosa, 1984

Eu gosto de delicadeza.
Seja nos gestos, nas palavras, nas ações, no jeito de olhar, no dia-a-dia e até no que não é dito com palavras, mas fica no ar...

Andorinha lá fora está dizendo:
-Passei o dia à toa, à toa.

Andorinha, andorinha, minha canção é mais triste:
-Passei a vida à toa, à toa.

Manuel Bandeira
BANDEIRA, M. Andorinha, Andorinha, José Olympio, Rio de Janeiro, 1966

Não quero amar,
Não quero ser amado.
Não quero combater,
Não quero ser soldado.

— Quero a delícia de poder sentir as coisas mais simples!

Manuel Bandeira
BANDEIRA, M, Estrela da Vida Inteira, Ed. Nova Fronteira

Nota: Trecho do poema Belo Belo

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É tocante e vive, e me fez agora refletir que só é verdadeiramente vivo o que já sofreu.

Manuel Bandeira
BANDEIRA, M., O Ritmo Dissoluto, 1924

Nota: Trecho do poema "Gesso"

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Amizade é como flores, não podemos deixar de regá-las, mas também não podemos regá-las muito.

O Rio

Ser como o rio que deflui
Silencioso dentro da noite.
Não temer as trevas da noite.
Se há estrelas nos céus, refleti-las.
E se os céus se pejam de nuvens,
Como o rio as nuvens são água,
Refleti-las também sem mágoa
Nas profundidades tranquilas.

Manuel Bandeira
BANDEIRA, M. Belo, Belo, 1948

Vivo nas estrelas porque é lá que brilha a minha alma.

Poema de beco

Que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha do horizonte?
-O que vejo é o beco.

Manuel Bandeira
BANDEIRA, M. Estrela da Manhã, 1936

Teresa, se algum sujeito
bancar o sentimental em cima de você
E te jurar uma paixão do tamanho de um bonde
Se ele chorar
Se ele se ajoelhar
Se ele se rasgar todo
Não acredita não Teresa
É lágrima de cinema
É tapeação
Mentira
CAI FORA.

Eu me amo porque se eu não me amar quem vai me amar?

A onda

a onda anda
aonde anda
a onda?
a onda ainda
ainda onda
ainda anda
aonde?
aonde?
a onda a onda

Manuel Bandeira
BANDEIRA, M. A Estrela da Tarde, 1960

Irene no Céu

Irene preta
Irene boa
Irene sempre de bom humor.

Imagino Irene entrando no céu:
- Licença, meu branco!
E São Pedro bonachão:
- Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.

Manuel Bandeira
BANDEIRA, M. Estrela da Manhã, 1936

Vi uma estrela tão alta,
Vi uma estrela tão fria!
Vi uma estrela luzindo
Na minha vida vazia.

Manuel Bandeira

Nota: Trecho do poema "A Estrela"

Duas vezes se morre:
Primeiro na carne, depois no nome.
Os nomes, embora mais resistentes do que a carne, rendem-se ao poder destruidor do tempo, como as lápides.