⁠E o sabor de café da manhã é um... Geraldo Neto

⁠E o sabor de café da manhã é um estupefaciente de coisas indormidas e mal nascidas. Meus cadernos envelheceram nos meus arquivos que param o tempo ao acaso, co... Frase de Geraldo Neto.

⁠E o sabor de café da manhã é um estupefaciente de coisas indormidas e mal nascidas.

Meus cadernos envelheceram nos meus arquivos que param o tempo ao acaso, com informações estúpidas nascidas de minha caligrafia torta.

E os dias se abreviam em opióides para aliviar dores não lembradas mas conhecidas, comprados na farmácia de velho comerciante que me vende medicamentos sem receitas coloridas enquanto o resto são cinzas.

E tudo fica normal ou é normal - o sol nasce, as estrelas brilham - e a noite, a noite chega à revelia de meu relógio descomunal.

E mais uma vez o sol me ilumina todo dia e o dia todo, silenciosamente, e tudo se embranquece e todos são vistos como não são e a igreja toca mais uma vez o repicar de sinos anunciando mais uma morte de um senhor gentil que preferiu para de respirar e esquecer os próprios pulmões congestionado.

Pobres pulmões, o ajudou a respirar profundamente a cada passo rumo ao não sei pra onde.

E tudo isso é normal, e enfurece o que inconscientemente nos conserva por igual em um conjunto de normais que não mais choram.

Nada muda, é tudo parado, mas, estamos andando, correndo, atrás do ônibus que se vai e de amores que não existe e que se desfaz.

Ainda dá pra sentir saudades, de meu avô, de meu pai, de Dona Vera, onde estão? onde estão? e dos dias já idos, adormecidos.

Sinto saudade de minha mãe mesmo estando ao meu lado, saudade do nunca mais querendo ser futuro e do por vir serenando o presente em um sábado a tarde.

Existimos e ainda estamos vivos, sonhamos e ainda desistimos, e chegamos em casa e dormimos, e se houver outro dia? se houver outro dia? Não sei, talvez pra nunca mais.