SOLITÁRIO MORIBUNDO Aquela data na... Elizeth Valle

SOLITÁRIO MORIBUNDO
Aquela data na agenda
Avisando um certo evento,
Já é passado, virou lenda.
Para as páginas em branco me atento.

Foi a vida que se passou,
Não lenta, passo a passo,
Pois tão rápida caminhou,
Que me perdi no seu compasso.

Já vi tanto e tão pouco vi,
Que a desilusão me devora.
O mundo não conheci,
É o que percebo agora.

Me vem esta epifania,
Desconheço cinco dos continentes,
A longínqua Oceania,
E mais quatro dos existentes.

Fiquei aqui nesta América,
Apenas num pedaço dela,
Travei uma guerra homérica,
Por uma mísera bagatela.

Deixei de amar quando podia,
Abandonei qualquer ilusão,
Segurar o que me pertencia,
Virou exclusiva paixão.

O riso me abandonou,
Tão só um sorriso cordial,
Pois a ambição que me devorou,
Consumiu o que era essencial.

Eliminei os meus afetos,
Os toques e o carinho,
Acumulei tantos desafetos,
Agora estou aqui sozinho.

No leito da minha morte,
Não há ninguém, só solidão.
E eu que pensava que tinha sorte,
Por não viver com a multidão!

Quisera no tempo voltar,
Quando meu coração era puro,
Exatamente naquele lugar,
Antes de tudo ficar obscuro.

Quando meus olhos se fecharam para o mundo,
E minha mente sufocou meu coração,
Foi nesse dia, infecundo,
Me transformei numa aberração.

Aos que vão ficar por mais um tempo,
Aconselho, por pura experiência,
Amem mais, evitem o sofrimento
De ficar só, de perder a essência.

Façam muitos e bons amigos,
Abracem seus pais, seu filho e irmão,
Para se livrarem dos castigos,
De quem preferiu a solidão.