A CASA Era uma casa alegre e ditosa.... Nonato Peixoto Nogueira

A CASA

Era uma casa alegre e ditosa.
Suas paredes irradiavam júbilo.
Suas janelas sorriam
E suas passagens viviam as gargalhadas.
Cada cômodo era um aparelho
Intenso e pulsante.
O grande astro a submergia.
Mesmo sem consentimento
Adentrava pelo interstício
De uma abertura mal fechada
Ou por uma vidraça cristalina e sem véu.
Todos que ali se embrenhavam
Ficavam embebidos por uma áurea
De euforia e contentamento.
Os mortais vivos que ali embarcavam,
Caíam, depois partiam.
Até sem conhecimento, revigoravam
De histórias aquela casa.
As luzes se acendiam e se extinguiam
Cronometricamente no alvorecer
E no anoitecer.
Seu jardim era enflorado,
Suas ervas verdes
E suas árvores frondosas.
Quem a contemplou a viu viva.
De repente, mas, não tão de repente,
Tudo isso acabou.
Os mortais vivos dissiparam-se.
O brilho apagou-se
E não mais se acendeu.
O grande astro se foi,
Não mais submergiu
E tudo escureceu.
A vidraça se despedaçou,
E o véu então surgiu.
As flores no jardim mirraram
E a grama, ora verde, secou.
A passagem se fechou por fora
E nunca mais se abriu.
O fúnebre tomou conta,
Ninguém nunca mais embarcou.
A casa então morreu.