Nonato Peixoto Nogueira

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EU SOU O TUDO E O NADA.

Sou uma parte indissociável
De um todo que é maior que tudo
Sou uma pequena partícula
De vida efervescente que se integra
Ao micro e ao macrocosmo
Um ser composto de micro partículas
Atômicas que interage com o éter.
Eu sou a existência.
Sou parte indelével da vida,
Da natureza, do ar, do mar,
Das estrelas, dos astros e do infinito.
Quando uma vida morre no universo,
Também morrem em mim partículas
De vida, de esperança;
Esta parte que sou eu
É parte de algo universal,
Um ser único.
O ser humano.
Os Seres vivos.
Desta forma, cada vez que
Um ser humano morre,
Eu morro também.
Cada vez que uma parte da vida,
De qualquer vida sofre,
Eu sofro também.
Cada vez que algum ser vivo é extinto,
Parte de mim também se extingue.
Enfim, se eu vivo, o universo vive,
E se eu morro, ele também morre.

A CASA

Era uma casa alegre e ditosa.
Suas paredes irradiavam júbilo.
Suas janelas sorriam
E suas passagens viviam as gargalhadas.
Cada cômodo era um aparelho
Intenso e pulsante.
O grande astro a submergia.
Mesmo sem consentimento
Adentrava pelo interstício
De uma abertura mal fechada
Ou por uma vidraça cristalina e sem véu.
Todos que ali se embrenhavam
Ficavam embebidos por uma áurea
De euforia e contentamento.
Os mortais vivos que ali embarcavam,
Caíam, depois partiam.
Até sem conhecimento, revigoravam
De histórias aquela casa.
As luzes se acendiam e se extinguiam
Cronometricamente no alvorecer
E no anoitecer.
Seu jardim era enflorado,
Suas ervas verdes
E suas árvores frondosas.
Quem a contemplou a viu viva.
De repente, mas, não tão de repente,
Tudo isso acabou.
Os mortais vivos dissiparam-se.
O brilho apagou-se
E não mais se acendeu.
O grande astro se foi,
Não mais submergiu
E tudo escureceu.
A vidraça se despedaçou,
E o véu então surgiu.
As flores no jardim mirraram
E a grama, ora verde, secou.
A passagem se fechou por fora
E nunca mais se abriu.
O fúnebre tomou conta,
Ninguém nunca mais embarcou.
A casa então morreu.

SERÁ?

A dor é pra ser sentida
A fala é pra ser falada
Palavras pra serem ditas
Choro pra ser chorado.

Calor tem que ser aquecido
Vida é pra ser vivida
Romance pra ser eterno
Amor pra ser amado.

Lágrimas pra ser sereno
Vingança pra ser deixada
A existência pra valer à pena
Tem que ter alguém ao lado.

A EPIDERME HUMANA

No ser humano
O que mais me fascina
É a sua alma.
Sua essência imutável.
As cores da alma
Com todas as suas nuances e matizes,
Seus brilhos únicos e inconfundíveis.
Atrai-me, extasia-me.
Sempre que olho e vejo
A imagem da alma de alguém
Resplandecida num brilho imortal,
Inócuo, de modo passivo a tudo.
Deleito-me.
Oh! Alma que a tudo sofres,
A tudo suporta!
Inspira-me.
Saboreie as intempéries das críticas
E o olhar da percepção alheia.
Como é estranho e intrigante
O preconceito sofrido por ti.
Experimentada na discriminação,
Sofrida na dor da própria essência,
Alenta-te apenas de saber
Que és um ser divinal,
Superior e esplêndido!
Como é possível que não te entendam?
Que tu, ó Alma é multicolor,
Tua tez pode ser branca, preta, amarela,
Pode até ser “azulada”
Ou esbranquiçada, não importa.
Tuas nuances se misturam
E se transmutam,
Ora é negra como a noite sem lua,
Ora confusa, sem descrição,
Ora possuem a cor do bronze,
Ou ainda alva e fulgente
Como a branca neve.
E teus olhos, ah! Teus olhos,
Que a tudo enxergam a tudo veem,
Ora são como o oceano,
Ora têm a cor do mel,
Em dias claros, lilás, colorido,
Translúcido, hibrido,
Ou simplesmente nada.
E tu ó Alma, és viva de vida,
Transbordante e reluzente
Como o ébano ou branco-amarelada,
Célica e mítica como o marfim da morsa.
És da vida o cerne, a pureza,
A essência, o ar dos viventes,
O elo entre bem e o mau.
Em ti estamos todos e todos estão em ti.
Oh! “Espectro humana”
Como pode ser tão bela,
Tão única e tão multidão.
A cambiante epiderme humana
Poderia ser simplesmente
Chamada de ALMA.

AURA

Ouço o farfalhar
De folhas secas ao vento,
Apresso os passos;
Sinto num sussurro
O arrepio que submerge
Até minha alma;
Ausculto o velho favônio
Proseando com as folhas verdes;
Sua voz é como melodia divinal.
Encantamento;
Consome a alma dos viventes,
É sobrenatural;
As lâminas parecem experimentar
Uma turgescência aural;
A essência de tudo é a vida.
É inconteste, passional;
Uma efervescência assume
O cômputo do tempo;
Nada mais se pode fazer,
Há um êxtase,
Um frenesi agudo,
Que toma conta e submerge
As almas das inseres
Numa aura angelical.
Outros ventos cantam e dançam,
As folhas no alto balançam.
É o arrebatamento,
O ápice da magia natural da existência.

ENCONTRO DE ALMAS

Foi assim num sopro,
Como num piscar de olhos
Foi numa estação inesperada,
Que tudo aconteceu.
De repente uma espécie de audição
Tomou conta de mim.
E lá estava ela, em plena aura,
Numa forma anômala.
Apreendi que era um ser de luz.
Havia brilho e calor,
Havia vida e amor.
Algo me seduziu
Inebriante como o absinto
E ao mesmo tempo
Fugaz como o vento.
Uma paralisia
Me entorpeceu o corpo
Algo mais profundo
Me invadiu o ser.
Queria correr, não para fugir,
Mas para senti-la.
Queria existir, não para morrer,
Mas para vivê-la.
Então, eu a senti.
Aproximou-se,
E qual um lobo faminto,
Se alimentou de mim.
Envolveu minha alma em sua alma
E tudo se fez claro e perfeito.
Senti uma espécie de diapasão divino
Uma sonoridade que perpetrou as sendas.
Uma linguagem que jamais ouvira.
Uma voz que jamais falara.
Tudo se fez calmaria,
E tudo se empreendeu.
Era algo inenarrável,
Inexplicável, inexistente.
Um paradoxo de sentimentos.
Eu apenas senti, vivi.
Eu a encontrei.
Eu a amei.

ESCREVER É PINTAR E BORDAR

Escrever é algo
Realmente fantástico.
Requer um pouco de tudo,
Das inquietações que é típico
De quem escreve,
À prática da paciência;
Escrever é antes de tudo,
Estar em sintonia,
Não com uma onda ou faixa restrita,
Mas sim com o universo;
Escrever é um desassossego sossegado,
É ora, um marasmo
De pensamentos e utopias,
Ora, uma avalanche
De sofreguidão inconteste
E até inconsciente.
Escrever é, num mesmo andamento,
Encontrar-se dentro do tempo
E fora do tempo.
É esquecer-se de tudo
Para lembra-se de quase nada.
É ver a vida passar e deixá-la ir,
Mas não tão depressa,
Para que não a perca de vista.
É viver dia após dia,
Em frente à máquina
Ou sobre a mesa, a olhar para o ócio,
Sim porque escrever requer
Muito de ociosidade criativa.
Escrever é compartilhar,
Compactuar é celebrar.
Escrever é dividir o precioso,
Afinal, ninguém escreve pra si mesmo.
Quem escreve corre sério risco,
É uma ocupação perigosa.
Há os que gostam e falam bem,
Já os que não gostam,
Veem defeitos em tudo.
Pode se escrever sobre tudo,
Mas é bom estar preparado.
Escrever é sublime e majestoso,
É belo, é ao mesmo tempo frugal.
O que escreve não se abstém,
Nem fica a distância, mas aproxima-se.
Às vezes cria seu próprio enredo,
Outrora dança a valsa dos outros.
Num momento seduz e encanta
Através das palavras,
Noutro, afasta, machuca.
Aquele que escreve dita o som
Escolhe a música, é o mago,
É mágico, esplêndido.
Entende de alquimia,
É compositor e feiticeiro,
É um duende.
Quem escreve
Pode ser mocinho ou vilão
Pode ser protagonista ou antagônico
Pode estar na retaguarda
Ou na vanguarda, não importa,
Pois quem escreve, antes de tudo
É o senhor das palavras.
Ele constrói, destrói,
Cria, recria, faz e refaz
Pinta e borda.
Tem o poder de acender
E apagar a luz da escrita.

FILHA DE IACI

Quem és tu, hein menina?
Menina mulher?
Menina moça?
Cunhantã?
Sim.
És tu índia cabocla,
Guerreira do Norte.
És a Filha de Iaci!
Um encanto de alma
Em harmonia com os céus.
De onde vem esse jeito de viver
Jovem mulher?
Tua feição trigueira
É apaixonante
Sua tez, diz quem és, e não negas.
Sua face, responde a indagações
Sua força, ah, essa vem dos sertões.
Mãos calejadas, pés cansados.
Feições cálidas e tropicais
Coração a pulsar dentro do peito,
Afoito, intrépido.
Não recua, não denota medo
O vento suspira em sua aura.
Por onde andaste
Que ainda não te tinha visto?
De onde vens?
Que trazes para mim?
Incertezas?
Verdades?
Amores?
Ah!
Iaci, sua mãe,
Falou-me de ti.
Mas não me disse que eras tão lua,
Tão majestosa e tão bela.
És bem vinda, achegue-se.

IACI

Ó grande lua,
Majestade suprema das noites
Inseres teus raios a iluminar a órbita
És a rainha dos espectros noturnos
E dos transeuntes das noites.
Para os íntimos é Iaci,
Para os loucos a grande dama das noites.
Para os incultos apenas um astro.
Para mim, és a magia,
O encanto em forma de luar.
És Iaci, a senhora da noite,
Da viração arrepiante.
Oh doce senhora, és viva de luz,
De alma, de seres.
Tem em ti o silêncio e o segredo.
Tudo vês e nada diz,
Tudo sabes e nada falas.
És uma caixa que se aberta,
Exala fluidos de dores,
De cores, de amores amados,
Sofrido e chorados;
De encantos e desencantos.
És tudo. És nada.
És encontro e desencontro,
És o mistério e assombro.
És a Lua, Iaci,
Ou apenas um astro.
És a aurora noturna
Tomando a terra num abraço.

MEU AMOR

Meu amor...
...Ainda que eu lograsse a lua
Para dar-te como um presente;
Mesmo que eu excedesse
As argileiras abissais
E trouxesse das profundezas
O mais raro dos seres marítimos;
Até mesmo se escavasse
As montanhas africanas
E de lá te apresentasse
O mais precioso dos diamantes;
Conquanto eu viajasse
Afora do infinito universo,
E muito além de Andrômeda e Júpiter,
Trouxesse o mais belo dos cometas,
Ou uma estrela cintilante;
Mesmo que pisasse
O reino dos zukkonianos
E bebesse das águas do rio Amarelo,
E eles me oferecessem
Como oferenda a ti,
A mais bela flor dos jardins
Do palácio real do rei Gormath;
Mesmo que o Pequeno Príncipe
Cedesse a mim o seu planeta
Com sua única rosa escarlate;
Se Willian Shakespeare doasse
A mim todos os seus poemas
Para presentear-te;
Ainda que Dante me brindasse
Com sua Divina Comédia,
Ou que Dom Quixote de La Mancha,
Abandonasse suas desventuras
Por Dulcinéia em homenagem a ti;
Coisa nula seria tudo isso.
Jamais seria satisfatório,
Grandioso ou majestoso o suficiente
Para significar o agradecimento,
A veneração e a admiração
Que sinto por ti, meu eterno amor.

NO BARCO DA VIDA

Sentado às margens deste negro rio.
Observo a negritude da noite
A cair fleumaticamente.
Ouço o farfalhar das folhas
Se enamorando com o vento.
Sinto o frio gélido e sereno
Da noite sombria que se aproxima.
Tento soerguer-me não consigo.
Sair de onde estou, não posso.
Um espectro se aproxima
Me assusta e aterroriza.
Não, não é a morte.
É apenas uma brisa.
Um arrepiante e gélido zéfiro.
Desses que te sobem
Pela espinha dorsal
E adentra as entranhas da alma.
O rio segue lentamente
Em seu curso silencioso e monótono,
O seu eterno caminhar.
Leva consigo para além-mar
Os sonhos, as quimeras
E todos os tipos de visagens,
Utopias e ilusões.
As alucinações e devaneios,
Não são da alma humana,
Mas, da vida dos mortais vivos.
Traz em si as vicissitudes da existência.
Por ele os nautas peregrinos,
Singram com suas naus.
Não há, para o rio,
Entre eles distinção.
São todos iguais.
Não há pretos novos,
Nem brancos velhos.
Não há mestiços, nem crioulos.
Não há bons, nem maus.
São todos iguais.
Estão todos no mesmo barco.
Estrangeiros não há
Forasteiros também não.
No barco da vida,
Onde vive a ilusão,
São todos iguais,
Somos todos irmãos.

TRIBUTO À MORTE
Oh! Morte.
Sublime morte!
Indelével e suprema morte
Quantos te admiram?
Poucos.
Quantos temem a ti?
Muitos.
Incansável e sedenta morte
Tua fuga é a paz de muitos
Tua presença o cansaço de alguns
Tua indiferença é o sofrimento de ambos.
Oh! Amarga e adorada morte!
Tu és a majestade sobre a vida
A imperfeição do perfeito viver
A tormenta que traz calmaria.
Em ti tudo se aplaca,
Se acalma, tem fim.
Oh! Doce e temível morte!
És tu grandiosa e imensurável
Caridosa e malévola.
Sem ti existe a vida insólita
Sem a vida a tua existência
Estamos sempre a esperar-te
Mesmo quando não esperamos.
De ti ninguém escapa
Mas muitos fogem de ti
Oh vida amargurada vida!
Desgraçada e efêmera vida!
Ainda assim, Mais amada e desejada
Que a indelével e eterna morte.

O RIO
O rio viaja translúcido e uniforme. Carrega em seu leito sonhos e devaneios, Esperanças, utopias, ilusões e miragens; Vai serpenteando em meio a rochedos íngremes ou extensos, pouco importa.⁠