SURDINA No ar ressequido o joão de... Luciano Spagnol - poeta...

SURDINA

No ar ressequido o joão de barro canta
Um joão de barro no ar do cerrado
Encanta, na madrugada que se levanta
Que encantado!

Um joão de barro canta. Um rosário
Longe, entre o mangueiral, tece...
Operário, que trabalha solitário
Musicando a sua prece.

Que encantado! Soa na sua sina
De poético, de pássaro bravio
Tomando a sua amada, inquilina
No seu covil!

Silente. O sol no seu nascente
Vazado pelo canto de tua benesse
João de barro, que cantas docemente
Musicando a sua prece

Que belo, na magia em oferta
O olhar melancólico e vazio
Desperta a alma tão deserta
Aos ouvidos este canto luzidio

Já tanto ti ouvi! Já ti ouvi tanto!
Coração, por que estais emocionado?
Por que chora, ao ouvir-te o canto,
João de barro que musica no cerrado.

E com que júbilo o joāo de barro canta
No ar sossegado, no ar do cerrado
Encanta, na madrugada que se levanta.
Que agrado!

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Outubro de 2018
Cerrado goiano
Olavobilaquiando