A ignorância às vezes é uma bênção... Arcise Câmara

A ignorância às vezes é uma bênção

Os canais de diálogos entre nós haviam se rompido, os desaforos não desaforam mais, tive de fazer escolhas, estava pasma com a preguiça do meu corpo, a vontade necessita da constância, mas eu não tinha vontade nenhuma.
Por muito tempo fui gente fina, invadida de paz e feliz em viver. Cresci carente e ansiosa por intimidade, meus limites nunca nasceram de uma relação madura, no entanto, eu me sentia ótima.
A ausência do amor transforma ricos em miseráveis, a vida é o resumo do amor que a gente faz, a alma não marcha numa linha reta, não vibra como foguetes, não é o mundo encantado.
Meus pecados me entristecem, erro sempre pelos mesmos motivos, sou de decisões e gosto de cumpri-las. Eu não precisava de muito consumo para viver, às vezes é difícil expressar o amor que sentimos por alguém.
Esperar dói, esquecer dói, disse foda-se e merda a torto e a direito, não desperdiçava mais energia escondendo sentimentos ou fingindo ser o que não era. Fui morar sozinha.
Minha sedução pelo proibido sempre esteve presente em minha vida, eu era e sou aquele tipo de pessoa que fala alto demais, e nisso e juntamente com um momento de fraqueza confundi minha imensa solidão com um mero tesão inconsequente.
Minha vida é influência do pensamento ocidental, um vai e vem amoroso sem limites, as pessoas falam comigo e nem percebem o quanto sou carente, o quanto preciso me afirmar como mulher.
Não fui incorporada a sociedade moderna, sou influenciada pela raiva, nunca fui sedutora, era movida a recomeços e tropeços, jurava sobre seis bíblias, mesmo que estivesse mentindo.
Consegui me libertar disso, isso me ensinou a olhar a vida com outra perspectiva, fico mais confortável nua do que vestida, gostava de me exibir, muita coisa não fazia sentido, nem planejo que tenha.
Frequentar os mesmos lugares por décadas, dei passos para trás, precisei perder dez quilos, adotei uma dieta vegetariana e leve, mudar o corpo fez eu mudar a mente, palavras vinham da alma, sem sentido lógico.
Sou aquela pessoa que assumiu a própria vida em meio a ignorância, só entendi mais tarde o propósito do Amor que não se deu ao pecado.