Poema de amor * Trecho da peça... Rafael Fioratto

Poema de amor
* Trecho da peça "Paixão" - todos os direitos reservados.


A loucura que você vê em mim deve ser aquela começada com A. A de artista, ou seria de autista? Vai ver que a loucura nem seja exatamente loucura, seja criatividade somada a uma paz interior que você nem sabe o que significa. Não consegue enxergar o que desconhece. Nunca teve algo parecido, pois a ganância não permite que paz alguma chegue próximo de qualquer sentimento que surja em você.

De qualquer forma é com sua raiva por mim que adubo minhas plantações de sonhos e é justamente dos sonhos que colho realizações que me elevam. Uso sim adubo de qualquer lugar, pois pra adubo qualquer B*ST* serve e isso você sabe produzir. No geral você desperta em mim um misto de pena pela situação e admiração pela coragem. Deve ser difícil se manter na corda bamba da mentira, da enganação, da farsa e principalmente do desvio moral. Não como do que te alimenta e Deus me livre comer no mesmo prato.

Se tem uma coisa que meus pais me ensinaram é ser respeitoso e correto nas minhas ações, independente de quem seja o outro. O erro de conduta pode até me atingir vindo de gente como você, mas jamais virá de mim justamente por conhecer e acreditar que a verdadeira beleza do ser está em saber me colocar no lugar do próximo. Eu não preciso de patuás, balangandãs ou qualquer outro penduricalho para proteção. Você sabe o motivo de minha fé? A verdadeira força está dentro do coração, minha proteção vem de algo muito maior que você não consegue acessar por lhe faltar bondade.

Entenda de uma vez por todas, observe ao redor e tenha a clareza de que todas as suas espertezas não lhe evoluem, você está parado, rodando em círculos sem conseguir enxergar que a vida passa rápido, a sua já está adiantada e você perdendo tempo correndo atrás de algo que nem você sabe o que é. Não percebe que há outra forma de conquistar seus desejos que não seja no tapetão, na penumbra, na surdina. Sempre pautei meus projetos no trabalho e no talento e nem um real do que tenho é de origem que me dê vergonha. Não saqueio o que não é meu, não humilho quem precisa trabalhar pra mim, não faço distinção de ninguém.

Já disse e repito, tenho uma paz interior que me mantém de pé mesmo diante os maiores turbilhões que você inventa só para testar meus alicerces. Permaneço com os dois pés no chão, sorrindo de canto de boca e te olhando como quem olha uma criança que brincou demais com tinta e se sujou demasiado. Minha vida deve ser motivo de revolta para alguém que não tem amigos, não tem amor, não conseguiu juntar nada nem ninguém. Justifica suas maldades em conceitos de justiça que na sua crença só serve para punir os seus inimigos e nunca parou para pensar que se também valesse para você, sua sentença seria triste?

O mundo é redondo e gira, gira em torno do sol, gira em seu próprio eixo e ainda tem a lua que gira em torno dele. Gira tanto que virou a mesa por mais de uma vez e mostrou que para ser superior é preciso ser antes de tudo justo. Já vi muita injustiça acontecendo, mas graças a Deus, sempre recebi de volta o que plantei. E se a semente é boa, a colheita não me assusta. Sou feliz dentro da loucura da arte e conhecedor de que minha cultura, tradições e raízes jamais me colocarão em situações desprezíveis como a tua.

E se hoje escrevo este lindo poema em sua homenagem é para dizer que mesmo sendo muito tranquilo e tolerante, não tenho estômago de avestruz e que enquanto você se enganou acreditando em uma ingenuidade minha, eu estava o tempo todo observando seus passos, seus caminhos, seus malfeitos e sabia onde você ia chegar. Agora levante e tente pelo menos sair do buraco. Mas não mexe mais comigo, isso nunca deu certo e você pelo visto não aprende.
E para não dizer que isso não é um poema, fica aqui uma rima:
Batatinha quando nasce espalha rama pelo chão...

*Texto desenvolvido para a peça de teatro "Paixão". Trecho do prólogo.