E o que é viver a vida sem nunca ter... Ricardo Ferraz

E o que é viver a vida sem nunca ter vivido um “amor dos bons", daqueles que a gente carrega no coração pelos resto de nossos dias, como garantia de ter valido a pena ter vivido até ali? Há certos amores que não tem data nem hora certa para acontecer, e é exatamente este tipo de amor que fica gravado em cada página de nossa história. O resto, se torna apenas resto daquilo que acreditávamos que era de verdade, mas nunca foi. Dividimos amores, compartilhamos sentimentos, nos perdemos no tempo, mas aquele amor insano e indivisível, aquele amor que crava na nossa alma feito espinho e que não machuca, aquele amor que não separa e que não nos cobra nada por ser verdadeiro; aquele amor é eterno. Vem de onde você jamais esperaria que viesse, e te encanta além dos olhos. Amor dos bons não precisa ser só seu, nem tudo nessa vida é correto, nem tudo nessa vida é pra ser como a gente quer. Amor do bons é aquele amor que a gente guarda, aquele tipo de amor do qual as pessoas te olham, mas não conseguem interpretar onde seu coração está naquele instante. Amor dos bons é aquele tipo de amor do qual você não esquece o sorriso, e consegue vê-lo novamente toda vez que fecha os olhos. Aquele tipo de amor em que você, deitado, lendo um livro, ou simplesmente olhando para uma parede branca, de repente, se pega pensando no “será que em algum lugar, também está pensando em mim?” Sente os olhos da pessoa na mesma posição que a sua, se encarnando dentro de seu corpo. Aquele tipo de amor que você pode não ter conhecido o cheiro, ou, pode ter se esquecido dele, mas de repente, ele entra como o vento nas suas narinas e você o desenterra na mesma hora, e seu mundo todo volta ao passado em segundos. Amor dos bons é aquele tipo de amor que às vezes é preciso partir, e daí, num dia destes por coincidência, e como sempre as coincidências acontecem, você vai precisar ir para algum lugar, e descobre que por força do destino seu voo foi transferido, e quando estiver no saguão lotado do aeroporto, numa véspera de um feriado qualquer, ele vai estar lá, aquele seu Amor dos bons, sentado em cima de um mala preta com uma blusa de lã e com as mãos entre os joelhos, esperando impacientemente pelo voo dele, também já atrasado. E quando seus olhos se encontrarem, vai notar que o tempo nada apagou, que a vida da qual você já tinha posto pra dormir, está ali, inteiramente acordada na sua frente. Só ai vai entender que amor dos bons não se apaga, não se esquece, não se extermina. Amor dos bons é coisa de pele, química de corpos destinados a se amarem por uma ligação que vai além do que a vista alcança. Que passe a minha vida, que eu siga meu destino, mas que eu não me arrependa, e se outra vida existir, que possa viver um amor dos bons, e que seja pela mesma pessoa... quem sabe?
Ricardo F.