Saudade Poderia lembrar uma partida, uma... Marilina Baccarat de Almeida...

Saudade
Poderia lembrar uma partida, uma dor, brisa
fria, contudo, sou a saudade, que fica na lembrança.
Posso ser branda e, também, como um vapor de
luz, que passa, rapidamente, deixando, na lembrança,
a saudade de alegrias ou de tristezas.
Sou conhecida de muitos e desconhecida de alguns,
porém, sou aquela, que habita em seu coração,
deixando um rastro de lembrança, de tristeza ou de
alegria, que ficou lá atrás.
Sou confiável, entretanto, depende de quem eu
habito... Posso vir escura, em sombra fria e, talvez,
você nem queira me conhecer, mas, posso lhe guiar
pelas lembranças do passado, que, em desertos sem
sol, abafados, trazem lembranças. Sou a saudade, talvez
seja um bom nome para me dar.
Quando viajo pelas recordações boas, como
saudade de um amor, que ficou na lembrança, todos
me aceitam.
Mas, quando entro em lembranças de tristezas,
ninguém quer me conhecer. Contudo, quando a minha
viagem for na memória de uma menina, venho travestida de fada, anjo, ou faço melhor, envio-lhe um príncipe encantado e as lembranças serão como ela
imaginar, como possa pensar...
Quando a minha viagem for nas lembranças de um menino, envio-lhe uma pipa, para ser levada pelo vento e ele se alegrará!
Quando eu viajar nas lembranças de uma adolescente, virei travestida de sonhos, que vão aflorar a mente daquela jovem... Mostrarei, em suas lembranças,
sonhos, que ficaram, quando ela se achava parecida com a Cinderela e perdia o seu sapatinho de cristal pelas escadarias do palácio.
Ninguém nunca conseguiu determinar como
sou e o que vem depois que chego ao caminho das lembranças, na mente de alguém.
Algumas vezes, trago lembranças alegres, de festas de noivados, lindas, maravilhosas!
Festas de aniversários de quinze anos, com a valsa dançada com o pai. Essa, sim, eu, com certeza, ficarei em sua memória.
Mas, em outras vezes, sem eu querer, posso trazer tristeza de alguém, que partiu e eu fiquei em suas lembranças... Nessa hora, sou a visita menos querida e sempre chego na hora errada, meu trabalho é pesado, não acho ser um castigo, o encaro como uma missão sem fim e, até no fim dos tempos, estarei em todas as lembranças.
Sou assim, não gostaria, mas existo em quase todas as lembranças... Sou aquela, que faz renascer todas as lembranças, sejam de alegrias ou de tristezas.
Seja do passado ou do presente...
Estou na terra desde o começo dos tempos e ninguém, jamais, conseguirá determinar como sou e o que vem depois que chego ao caminho final. Ou seria o início de um novo?...
Sou aquela, que se intromete em suas lembranças...
Sou a Saudade!
Marilina Baccarat de Almeida Leão no livro "Viajando nas Lembranças" página 33