Isadora amanheceu deprimida. Ela que... Ângela Beatriz Sabbag

Isadora amanheceu deprimida. Ela que nunca se sujeitou a trabalhos convencionais, desses que a pessoa têm que cumprir horários, ela que sempre fez somente o que lhe possibilitava voar, estava nesse momento sentindo como se fosse um contrato de experiência.
Olhou no retrovisor da sua história e percebeu que há tempo demais não conseguia emplacar qualquer relacionamento por mais de três meses, às vezes por mais de três vezes.
Agora, quando se olhava no espelho via um livrinho de capa azul, totalmente sem charme. Costumava conversar muito consigo mesma, e aí as coisa ficavam feias para ela. Não se poupava, queria mesmo era se sentir machucada, de preferência em frangalhos. Começava por indagar-se o que lhe valia ter tão grande autoestima, pois se fosse realmente tudo aquilo que achava dela, não viveria tão sozinha como vive. Se ela fosse aquela pessoa fenomenal que ela achava que era, faria tanta falta que não cogitariam de perdê-la de vista, de ter notícias suas e de ouvir sua voz. Amigos e amores não iriam assinar com ela nenhum contrato, mas certamente a levariam tatuada em sua histórias e principalmente em seus corações.