Eu estava só, mesmo rodeado de pessoas.... Eriec Soulz

Eu estava só, mesmo rodeado de pessoas. Praticamente nada me entusiasmava. Uma moça descabelada dormia a minha frente, seus fones de ouvido estavam no som mais alto possível. Atrás havia um casal que falava incansavelmente sobre as artimanhas dos netos e palpitavam na vida dos pais deles. Ao lado tinha um menino, digo, um rapaz com seus vinte e tantos anos, um livro na mão e um ponto de luz sobre si. Não que eu tenha reparado, mas as letras grandes no início da página cento e vinte e dois me chamaram atenção: Como ser um herói. Afinal não precisava de muito esforço para lê-las, enfim. Ao fundo ouvia-se algumas risadas e crianças resmungando, enquanto isso lá fora, a paisagem corria a cerca de cento e dez quilômetros por hora. Já era noite, estava escuro e o bendito assento vinte e três do rapaz vestido de preto da cabeça aos pés, não que eu tenha reparado claro, até porque era impossível não vê-lo, continuava com a luz acessa. Aquela viagem certamente seria longa, a começar a contar pela minha ansiedade que transformava os segundos em horas. Eu estava ali, minha mente não, a propósito, estava longe, bem longe. Mal sabia eu o que fazer ao desembarcar no meu destino. Eu pensava, roía as unhas, cruzava as pernas e imediatamente descruzava, refletia, agoniava e não chegava a conclusão alguma. Talvez eu devesse relaxar um pouco e tentar dormir, eu estava completamente incomodado, sabia o porquê, mas na verdade não queria admitir a mim mesmo que talvez estivesse metido numa loucura, que talvez tivesse tomado uma decisão precipitada que havia me deixado completamente inseguro. Enfim, eu iria tentar. Já estava decidido. Fechei os olhos e em meio aquela multidão de pensamentos questionei: Como ser um herói? Abri novamente os olhos e fiquei olhando para o nada por longos minutos, tentando responder aquela simples pergunta. Eu não sei, mas acho que preciso acreditar um pouco mais em mim. Acreditar nas minhas intuições, aplicar meus aprendizados nas novas experiências que estão por vir e ter mais fé. Ter certeza. Certeza de que dará certo. Heróis agem enquanto os outros se paralisam. Eu estava agindo e isso já é um começo... CLICK! O garoto do vinte e três apagou a luz. Finalmente. Já era hora. Encostei a cabeça no vidro e logo adormeci. Algumas horas depois o ônibus parou. Acordei meio assustado e logo o motorista gritou o som do meu futuro. Eu não estava preparado, porém minha determinação era imensurável. Muitas pessoas se levantaram para sair o mesmo tempo. Eu ainda estava sonolento, decidi aguardar o tumulto se diluir. Ajeitei-me no assento, olhei ao lado, assento vinte e três, vazio, notei que havia algo enfiado entre o vidro e a cortina da janela, era o livro. Como ser um herói? Levantei rapidamente olhei ao redor e por uma fresta da janela, vi o garoto lá fora. Pensei naquela pergunta impregnada na minha cabeça. Definitivamente eu não sabia a resposta para ela, mas logo saberia. Peguei o livro e fui em direção a saída já folheando-o. Na folha de rosto havia um nome escrito a caneta, certamente era o nome dele, ou não, sei lá, aquilo não me importava. Desci as escadas, passei pela porta de saída e acelerei o passo. Elevei os olhos e vi o mundo, minha mente se inundou de pensamentos, não pensei duas vezes e gritei:
- Fabrício? O garoto parou e olhou-me desconfiado. - Acho que isso aqui é seu. Estendi a mão entregando-lhe o livro.
Segui meu caminho certo de que grandes feitos se iniciam com pequenos atos.