A MULHER E A ESTRELA Por Marilina... Marilina Baccarat de Almeida...

A MULHER E A ESTRELA
Por Marilina Baccarat de Almeida Leão

Por uma porta aberta, olhava a bela mulher de cabelos cor de fogo e mãos com dedos
compridos, os olhos perdidos, buscando, no céu de fim de tarde, quando a noite já
começava a cair, uma estrela. Aquela estrela, que sempre parecia aumentar o brilho, para
que ela, encantada, pudesse estabelecer um diálogo com a Estrela.
Ao encontrá-la, abriria um sorriso, daria uma boa noite à estrela e a conversa começaria,como qualquer outra, contaria do sol ou da chuva, da família e das amigas, quando cansasse, sentaria no batente da porta e respiraria fundo o cheiro do jasmim... Várias vezes,descreveu, para sua amiga estrela, o que era o aroma, só que não adiantava muito,pois a estrela não entendia...Descrevia a aspereza da terra e a maciez da grama, do gosto salgado da lágrima, do doce da fruta, do amargo do jiló, do gelado do sorvete. E então a confusão estava feita:- O que é sorvete?
Sorrindo, a mulher dizia:- Esquece e me fala do que você vê. A estrela então dizia:-
Daqui, durante o dia, posso ver pouco, pois o sol me bloqueia, vejo nuances de cinza,
pontos coloridos, indo e vindo, lentos ou rápidos demais, os ruídos são tantos que me confundo, houve uma vez que quase caí, um vento muito forte passou por mim, senti um cheiro estranho, minhas amigas, que estão aqui, há muito tempo, disseram que são aviões de guerra, senti o cheiro da morte, você já sentiu esse cheiro?
A mulher respondeu que sim, mas, não queria falar sobre isso, era triste demais, não a morte em si, mas, sim, como se morre na guerra...
Para aliviar a tristeza da voz, que sentiu da mulher, a estrela então começou a falar:-
agora mesmo vejo muito bem, você e seus cabelos vermelhos, o branco do que se chama jasmim, e muitas luzes, que, daqui, parecem iguais a mim. A senhora então sorriu com a gentileza dela e descreveu que, da terra, ela via a estrela com um enorme brilho,que a distância fazia com que ela parecesse uma fada ou um anjo. A estrela ficou feliz e disse que poderia vir à terra morar e ser vizinha da sua amiga, sentir os cheiros, a aspereza da terra, o gelado do sorvete e o perfume do jasmim, sentir a vida...
Sábia, a mulher de cabelos vermelhos lhe explicou que, se ela viesse, maravilhoso
seria, contudo, como conseguiria voltar ao céu?
A estrela então respondeu que não poderia voltar, pois, na terra ficaria, mesmo que
fosse jogada ao mar, onde nasce a lua. Ainda, assim, não retornaria e nem sequer estrela do mar se tornaria...
Então a doce senhora lhe pediu que no céu ficasse e iluminasse as noites escuras,
junto com a lua e no dia em que, do céu, ela visse um rasgão de luz, correria e a abraçaria,juntando assim o céu e a terra em poesia única, onde a grama macia a faria repousar sobre os olhos de suas companheiras do céu...E então, eternas, na terra, seria a mulher e a estrela...