ERMO Por que falar se quase não sou... Rev. Miquéias de Castro

ERMO

Por que falar se quase não sou ouvido?

Por que gritar se minha voz se mistura com os trovejos da densa tempestade?

Caminham, tropeçam, caem... esfolam, laceram, decaem

Quase não ouvem, pouco enxergam, nada percebem



A noite se mostra escura, trevas durativas se alargam ante os pés

Desalumiados e tíbios prosseguem, se batem, se cansam esmorecem

Tornam-se cada vez mais letárgicos, excessivamente apáticos

Quase não ouvem, pouco enxergam, nada percebem



Subo ao monte e grito mais alto num vociferar tresloucado

Sem efeito, sem retorno, consequentemente sem consequência

Me canso, desfaleço, continua o cortejo e mudanças não vejo

Quase não ouvem, pouco enxergam, nada percebem



Quando parecia vencido, sem forças caído

Uma luz me alcança, me traz energia, fortalece me faz erguido

Por que falar se quase não sou ouvido?

Porque volto a crer, ainda que pareça demorado, nem tudo está perdido



Por que falar se quase não sou ouvido?

Porque foi para isso que fui chamado, e preciso sempre estar animado

Confesso ser difícil, às vezes quase impossível, mas no fim coroado


Ainda que quase não ouçam, pouco enxerguem, nada percebam.