Eu ouvia o Lucas tocar, virei-me para o... robertoauad

Eu ouvia o Lucas tocar, virei-me para o sul e a lua estava quase cheia. Na contra esquina vi um casal passeando com seu cachorro, creio eu era de raça, mas não sei qual pois nunca me preocupei com isto, eu só sabia que gostava dos bichos. Sempre convivi com gatos e cachorros e não conseguia entender como haviam pessoas que não gostavam de animais e o pior muitas vezes os maltratavam..Minas havia um ditado, pelo menos eu acho que é um ditado, mas sempre ouvi dos mais velhos que: "não se pode confiar em quem não tem um bicho". Sei lá fiquei com aquilo na cabeça por estes anos todos e com o tempo, a convivência com as pessoas, fui percebendo, quão certeiras eram estas palavras. Olhei novamente para a lua e as luzes do cafezal, que criam uma imagem deslumbrante dali do alto dos piolhos e voltei-me para ver novamente o cachorrinho, um tipo Lulu na verdade e ele já não estava mais no meu ângulo de visão, voltei novamente minha atenção ao Lucas, que já tinha dado sua pala e se dirigia de volta à mesa. Nestes milésimos de segundos, parece-me que passou toda a minha vida e minha experiência profissional, lembrei-me de um caso onde a própria pessoa se auto acusava, para ganhar a simpatia de sua coletividade, se tornando vítima e autor ao mesmo tempo autora, Fui lá defender meu camarada João Natal e ao final dos depoimentos, a delegada tinha percebido toda a armação e liberou o Natal, literalmente, pois já estávamos quase no na data dos festejos. Outros são mães e pais que veem nos filhos apenas uma fonte de renda, o que é mais comum do que se imagina. Fiquei ali pasmo como o ser humano realmente é sórdido. O Lucas sentou-se e eu pedi mais um copo, servi-lhe a cerveja, brindamos e era a primeira vez que tomava um copo de cerveja com meu filho. Olhei novamente para a lua, as luzes da favela Cafezal, a rua, já quase vazia e naquele tintilar, eu percebi nos erros, o quanto havia acertado.