Os navegadores do nome Eles partiram sem... José Enrique Barreiro

Os navegadores do nome

Eles partiram sem índice logo após o primeiro eclipse.
Atravessaram a duração das águas
cobertos com o frio quente da aventura.
Vestidos apenas de universo
habitaram o avesso do abrigo
- ainda assim, dormiram como santos.

Eles partiram antes da invenção do estilo.
Procuravam arranjos perfeitos de palavras,
tecidos grávidos de sentido.
Não temiam o grito do infinito.
Tambor de guerra, tremor de terra, nada os estremecia.
Tinham coragem de artista.

Muito antes do descobrimento da história, eles partiram.
Abandonaram mulheres, panelas e fogueiras,
meninos pedindo colo e caminho.
Surdos a súplicas,
cegos como morcegos,
foram em busca do nome que habita o ovo e o velho,
a sombra da espada e o espelho.

Eles partiram antes do nascimento de Dante,
antes do enterro de Homero.
Paladinos do destino e da palavra,
navegaram em busca do nome que habita o Homem.

(Partiram também – em grandes levas – no século XIX,
quando a humanidade se despedia do silêncio e gestava o
próximo ancestral.)

Eles partiram hoje de manhã.
Eu os vi da minha janela,
me deu um troço, uma certeza,
e eu parti com eles.