Nem sempre a gente cai e logo em seguida... Bia Antunes

Nem sempre a gente cai e logo em seguida consegue se levantar. Há quedas que provocam ferimentos realmente dolorosos... É diante dessas situações que testamos nossa capacidade de resiliência. De superação.
Imagine-se ferido em meio ao fogo cruzado. Seu instinto natural vai te obrigar a ignorar a dor e seguir em frente, até alcançar um lugar seguro. Em paz, no silêncio do beco escuro, o sangue pulsando em borbulhas por suas veias começa a esfriar. A dor nesse momento é intensa.
A pior parte é que você não sabe se agradece por estar viva, ou contesta chorando o motivo de você estar naquele lugar, naquele dia, no exato segundo em que tudo começou. Você se pergunta se é capaz de suportar tanto sofrimento, se será possível vencer a dimensão profana do mar de sangue que lhe colocou em uma redoma.
É preciso respirar. Encher de vida seus pulmões franzinos e fadigados após tanto correr. Talvez seja válido também, contar até dez. Ou até cem. Você é obrigada a tentar assimilar os últimos acontecimentos e pensar nas hipóteses mais plausíveis. Não importa quanto tempo leve até que se sinta pronta, porque quando você sair das sombras, talvez perceba que ele é seu aliado.
Um último murmúrio, invocando a proteção do divino. Então você se levanta, firma os pés doloridos no chão, ignora a ardência das feridas, e volta a caminhar. Um passo de cada vez, não vai abusar.
Em meio ao caos, você percebe que renasceu. Do teu suor sagrado se dá conta que se resignou. E do sangue que do teu corpo foi derramado é que se fez o teu escudo. Você não se tornou inabalável, não. Mas venceu a tua própria fraqueza. Ultrapassou teus próprios limites e, olha só, você está viva! Está inteira, apesar das dores. Levanta e segue. Teu infinito te espera.