Auroras Alberto Duarte Bezerra Ainda que... Alberto Duarte Bezerra

Auroras

Alberto Duarte Bezerra

Ainda que assim, pareça,
Num acertar de contas apressado,
Sob um olhar incompleto, fugaz,
Numa visão de soslaio,
No que o tempo deixou pra traz,
No que restou do passado.
Ao olhar de momentos,
Em horas de desconsolo,
De incompleta leitura,
Num julgamento severo,
Numa sentença mais dura,
Das passagens já idas,
Andadas, vividas.
Não, não foram tempos vazios,
Épocas perdidas.
Não foram eles em vão,
Tampouco assim, sem razão.
Por certo te deixaram marcas,
Ainda que não queridas,
Mas passaram, foram embora,
E te trouxeram até aqui, pro agora,
Guardam tesouros teus.
Carregas ora, legados,
Que te ensinam o próximo andar,
A esculpir o teu ser,
A te conduzir no caminhar,
Moldaram o que és hoje,
E te levam no viver,
Aumentando o teu somar.
E quanto a uma falsa quietude,
Que desconfia tua alma habitar,
Numa tentativa de te abater,
Do teu ânimo se apossar.
Não ficas aí, a sentar em seu colo,
Sentindo o congelar do vento,
E deixando de ver a Aurora.
Saias daí, andas!
Vais embora!
Não ficas aí num lamento,
A fazeres acertos agora,
Pois ainda não é tempo,
Não é chegada ainda a hora.
Andas!
Vais ver o vaguear dos rios,
Andar por belos vales, talvez,
E se preciso for,
Escalar outras montanhas,
E não te cansas, outra vez!
Vais!
Segues em frente, vais embora,
Vais buscar outras paisagens,
Não deixas o inverno te acamar,
Vais ao encontro da primavera,
Vais procurar os campos de flores,
Sentir os seus cheiros, apreciar suas cores.
E não te esqueças, levas contigo a alegria,
E deixas pra traz as dores.
Vais!
Não ficas a sentar no tormento,
Não insistas em calcular,
Não é tempo de desalento,
Tampouco ainda de balanços,
Não é hora de parar.