De tão forte, a dor tornou-se parte de... Cecília Almeida

De tão forte, a dor tornou-se parte de mim. Não dói tanto, não tanto quanto antes. Convivo com ela dando piruetas nos destroços de quem eu sou. Para sustentá-la ela me cedeu alguns antídotos. Enquanto durmo, ela passeia em segredo pela noite, mas pontualmente ela volta pela manhã e antes que eu possa abrir os olhos, ela já oscila na lágrima fraca que apontasingelamente em meus olhos fechados. Se eu parar por um minuto e me permitir sentir mais do que posso suportar a ouço cantarolando pelas ruínas de muros que um dia ergui e que não eram tão fáceis de derrubar. Mas agora, tudo parece mais fácil, não há pelo o que lutar, não há pelo o que viver, eu cheguei ao meu tempo final. E ela está ali, presente na rouquidão da minha voz, timidamente entrosadaem meu riso amargo, se banhano meu derramar mais silencioso de uma lágrima, se cala quando escrevo, observa enquanto leio. Ela está aqui e eu tenho uma grande certeza, além daquela que partirei para os braços da morte como uma doce menina ao encontrar com sua mãe após perde-se dela, a dor é a minha eterna companheira.