Medo Puro Eu tenho medo normal, o mesmo... Alexandre Morais

Medo Puro

Eu tenho medo normal,
o mesmo medo que você,
e neste momento ler meu medo
de médico, do homem do saco roxo
de lombriga e doença.

Tenho temor de palavras bonitas
de frases pensadas e bem feitas.

Tenho medo de pular da ponte
e cair de braços abertos no rochedo.
Medo de tocar o interfone e for ele
e eu me descontrolar e ofendê-lo
e esperá-lo no passeio.

Medo de tirar os livros da mala
a garrafa de uísque pela metade
e acabar com o resto de uma vez e,
ter refluxos e refluxos de medo
junto com o cigarro
mal apagado.
Sinto medo porque quero
não para me proteger
não é algo instintivo
salvador.

Medo de amar por antes
ter tido medo de falar o amor
incalculável,
depois chorar de medo
por não conseguir
amar de novo.

Meu medo não tem explicação
matemática e nem luso-portuguesa,
muito menos em dicionários.
Medo de deitar com você
posso babar de desejo
e revirar o lençol como meu estômago
depois do porre de uísque.

Tenho pânico em dizer "eu te amo"
e morder a maçã e quebrar o dente.
Tenho medo do pronome "eu"
e pavor da felicidade excessiva
enjoativa como glacê.

Medo medo medo medo
Medo do meu apartamento
e nele dormir sozinho
no frio, sem luz,
como em um caixão.

Medo de escrever uma carta
e desse poema medroso.
Não sei, só tenho medo.
medo de finalizar meu medo
e dizer: "Adeus."