Não sei por que, apenas amanheci com... Jacques Khalil

Não sei por que, apenas amanheci com uma saudade danada dos tempos em que empinava pipa, poxa, quanto fascínio exerce esse objeto sobre adultos e crianças, que o diga, Santos Dumont. Lembro-me da dificuldade de encontrar a taquara, de juntar moedinhas para comprar o papel seda, cola, linha, carretel, fazer a armação, eram tantos modelos e medidas diferentes! Putz, era uma viagem, uma arte, uma terapia, o mundo simplesmente parava, concentração total para a confecção da também denominada pandorga. Era quase uma hora de trabalho, mas valia cada minuto, entretanto, nada superava o momento mais aguardado, a realização do sonho de Ícaro, o show, a magia, o instante em que o nosso espírito se conectava a linha até chegar aquele objeto colorido feito de papel e bambu e começava a cortar o céu em busca das nuvens. Ah! todas as vezes sonhava estar em seu lugar e estava, como é bom sonhar, como é bom recordar, como é bom ainda ter essa sensação, mesmo estando tão distante esse tempo, quando eu e minha pipa éramos um só e vagávamos livres ao sabor do vento pelo céu azul, cor da minha infância.”