Sabe... Eu ando naquela fase de ouvir... Hélia Barbosa

Sabe...

Eu ando naquela fase de ouvir músicas românticas – aquelas mais bregas – e chorar já no primeiro acorde, de reler tudo o que você me escreveu, de ficar por horas olhando fotos e me perguntando: “Por que tem que ser assim?”... E, aliás, tem que ser assim?

Porque, às vezes, eu me sinto como alguém que mergulhou e, enfim, submergiu... Mas fica se debatendo, batendo mãos e pernas e não consegue sair daquele mesmo lugar, por mais esforço que faça. Assim como eu, que não te esqueço. E porque tudo isso me dói demais.

Dói a sua ausência, de uma forma que me sufoca. E eu descobri que nunca mais vou rir de quem diz coisas como “não respiro sem você’. Porque é assim que eu me sinto, e não é exagero. Também não saberia explicar, mas quem já experimentou essa sensação de asfixia pela falta de alguém pode entender perfeitamente. Pode entender como isso dói.

Dói lembrar que eu tentei tanto, busquei tanto e mesmo assim não conseguia te alcançar.

Dói pensar no tal de “poderia ser assim”... Já reparou como isso dói? Pensar que poderíamos estar agora conversando aquelas nossas bobagens de sempre, só pra descontrair de um dia cansativo. E nós riríamos muito e depois ficaria aquele silêncio que antecederia o abraço, que antecederia o beijo... E eu esqueceria do mundo nos seus braços e você se perderia nos meus. E nos amaríamos

como se fosse a primeira e a última vez, e você percorreria cada ponto do meu corpo, como se estivesse ainda a conhecê-lo e eu provaria mais uma vez do gosto de cada canto de sua pele. E depois eu descansaria em seu ombro e nós dormiríamos de mãos dadas. E pela manhã eu sorriria ao ouvir sua voz dizendo “bom dia, dorminhoca”, com aquela voz sonolenta. E eu diria baixinho – ou talvez eu apenas dissesse em pensamento – tão sinceramente: “Obrigada por me fazer tão feliz!”. Não sei se diria a você ou à vida. Mas sei que diria. E, sim, isso me dói.

Mas talvez o que mais doa seja olhar as fotos, ouvir as músicas, reler tudo e pensar como faltou tão pouco pra ser assim! E pensar que bastaria um pequeno gesto seu, tão simples e tão leve, para transformar tantas possibilidades em uma história real de nós dois.