Frases de Flora Figueiredo

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Quanto desafeto!
A palvra se deprava
frente ao alfabeto.

Grito se agiganta,
embrutece, se enfurece,
morre na garganta...

A estrela cadente
teima, se enrosca, se queima.
Quer o sol nascente.

Não deixe portas entreabertas
Escancare-as
Ou bata-as de vez.
Pelos vãos, brechas e fendas
Passam apenas semiventos,
Meias verdades
E muita insensatez.

Flora Figueiredo
Calçada de Verão, Editora Nova Fronteira Rio de Janeiro, 1989

Nota: A autoria do texto tem vindo a ser erroneamente atribuída a Cecília Meireles.

...Mais

Pois que viver
não é entrar no mar onde dá pé,
mas mergulhar com fé no maremoto.

Não deixe portas entreabertas.
Escancare-as ou as bata de uma vez.
Porque por meias entradas entram meias felicidades.

Aprendi a esperar...Se ventos são capazes de levar embora, a qualquer hora, também, são capazes de fazer voltar.

Retirada


Respeite o silêncio
a omissão,
a ausência.
É meu movimento de deserção.
Abandonei o posto,
rompi a corda,
desacreditei de tudo.
Cansei de esperar que finalmente um dia,
minha fotografia
fizesse jus ao seu criado-mudo.

O canteiro assiste:
a antúrio, falso perjúrio,
pões o dedo em riste.

Ouviu-se um estrondo
Baleia presa na teia?
Não! é marimbondo.

Linha de combate:
as granadas e os petardos
são de chocolate.

Festa chega ao fim.
Beijos sobram na bandeja.
Todos de amendoim!...

O sol envelhece.
pavio queima por um fio.
Verão que apodrece.

Tempo destinado
a esfregar e descorar
nódoas do passado.

Urge a maritaca.
Desafia a paz do dia
a golpes de faca.

Numa pressa insana,
o jato divide em quatro
o azul-porcelana.

Paisagem urbana

Num ponto qualquer da cidade
trêfego
trôpego
sôfrego
bêbado.
Ele tem medo da sobriedade.

Agarre o desaponto pelo avesso, apare as pontas,corte o excesso. Mude a covardia de endereço, ponha a escavadeira em retrocesso até que o mundo,esse réu confesso, lhe devolva seu mel e seu apreço.


Roda mundo, roda vida, roda vento.
Passa tudo, passa tanto, passa tempo.
Rodopiam as cores
na eterna reticência do momento.
Entre uma volta e outra do destino,
continuo apenas um menino
a soprar meu gira-sonho como um cata-vento.

Lugar Marcado

Sempre no mesmo lugar,
as cadeiras vazias questionam seu enrdo.
Estão vazias dos que saíram cedo
ou daqueles que resistem em chegar?