Filhos Martha Medeiros

verde da cor.

Arde no peito essa chama
por este sol abrasador
do sertanejo que clama
a Jesus nosso Senhor
que bote fim nesse drama
e mande o verde da grama
que sossega a nossa dor.

Negra cor.

Abro as portas do meu peito
mostro o coração rasgado
pelo corte do machado
que desfere o preconceito
quando se falta respeito
sobra o fio da minha dor
em que pele quer se expor
toda raça é independente
minha alma é transparente
mas é negra a minha cor.

Destino de vidas.

O meu sertão é dependente
da água que traz sustança
sem ter nada que alimente
sobra a dor de uma mudança
e em outra terra diferente
cada lágrima é uma semente
que brota como esperança.

Água da fonte!

Duvido quem não adote
o coração de uma donzela
pra viver dançando xote
grudado no suor dela
dando cheiro no cangote
tomando água de pote
na fonte dos beijos dela.

Nordeste eterno!

Na terra do sertanejo
todo amigo é um parente
seja em qualquer lugarejo
tem a fibra dessa gente
nordeste quando te vejo
só aumenta o meu desejo
de te amar eternamente.

Cuscuz daqui.

Não me venha com nutella
nem geleia natural
nem patê de berinjela
ou qualquer pão integral
o que faz bem pra goela
é uma charque na panela
e um cuscuz bem regional.

Fé e força.

A seca é mesmo ingrata
é muito difícil plantar
o pouco que a gente cata
mal dá pra se alimentar
a vida segue pacata
e a dor que hoje maltrata
amanhã Deus proverá.

Decisão!

Tem os que desistem cedo
tem também quem se aproxima
tem quem não levante o dedo
outros que tem autoestima
os fracos fogem com medo
e os fortes partem pra cima.

Brasil não!

O brasileiro tem nome
mas vive nessa agonia
o nosso dinheiro some
no bolso da monarquia
o ladrão é quem consome
e o povo passando fome
comendo uma vez por dia.

Sabe o rostinho bonitinho? Não é o que conquista. O que eu quero saber é do que você gosta e não de quantas barras você levanta.

SINTO MUITO,
eu apenas sinto,
e,
quando sinto,
o rio deságua,
a tinta atinge o chão
e é em meio a vermelhidão
que percebo que já não há mais palavras
que possam substituir essa ação.
A minha boca sangra,
pois ela deseja ser capaz de falar,
deseja ser capaz de se libertar,
deseja que ainda que por um momento
as palavras pudessem curar.
Sonho com um momento
em que a canção do rio
seja mais forte que sua correnteza,
e que ao lado do vento
seja capaz de em suas notas
transmitir minha tristeza,
que sirva de alimento.
E se eu pudesse falar,
se coubesse em palavras
e eu pudesse expressar,
que me perco desejando ser encontrado,
que meu medo
seja me deixar ser levado
por aquele que se reconhece terminado,
e que por implorar por um pouco de cor,
seja em branco que eu continue a ser banhado.

Morena cor.

Quando vejo uma menina
brincando de pé no chão
vestido de malha fina
rodado que nem pião
cabelo encaracolado
morena cor do pecado
só pode ser do sertão.

Meu sertão!

Aqui eu tive alegria
mas também dificuldade
tomava leite todo dia
não me faltava amizade
e quando a chuva permitia
o que eu plantava colhia
pra vender lá na cidade.

Denuncie.

Toda mulher agredida
é preciso que se revele
não permita ser ofendida
que ninguém lhe atropele
onde nasce essa ferida
a dor é maior na vida
do que na própria pele.

sertanejo.

Que um dia Deus permita
que a chuva reapareça
que a terra fique bonita
que o verde dela floresça
e que essa dor infinita
que o sertanejo acredita
que ela enfim desapareça.

Coração e cor.

O preconceito é o rancor
de quem fere sem razão
quem não conhece o valor
que tem cada cidadão
quem age sem ter pudor
julga alguém por sua cor
sem enxergar seu coração.

O preconceito é um veneno na boca de um idiota.

Vida no nordeste.

Aqui ninguém tem medo
não é terra de covarde
pode ser doce ou azedo
debaixo do sol que arde
a vida não é brinquedo
o trabalho começa cedo
mas sempre termina tarde.

Raiz

Posso até mudar de país
de pobre pra grã-fino
mudar de triste pra feliz
posso até mudar de destino
de professor para aprendiz
só não mudo a minha raiz
porque o talo é nordestino.

Sertão esquecido!

A fome e o abandono
a tristeza e a solidão
o desprezo do patrono
sem poder de decisão
terra seca não tem dono
da primavera ao outono
ninguém liga pro sertão.