Fernando Pessoa Desanimo

Cerca de 53868 frases e pensamentos: Fernando Pessoa Desanimo

Eu quis tanto ser a tua paz, quis tanto que você fosse o meu encontro.

Fico tão cansada às vezes, e digo pra mim mesma que está errado, que não é assim, que não é este o tempo, que não é este o lugar, que não é esta a vida. E fumo, e fico horas sem pensar absolutamente nada: então eu não sentia nada, podia fazer as coisas mais audaciosas sem sentir nada, bastava estar atenta como estes gerânios, você acha que um gerânio sente alguma coisa? Quero dizer, um gerânio está sempre tão ocupado em ser um gerânio e deve ter tanta certeza de ser um gerânio que não lhe sobra tempo para nenhuma outra dúvida. Claro, é preciso julgar a si próprio com o máximo de rigidez, mas não sei se você concorda, as coisas por natureza já são tão duras para mim que não me acho no direito de endurecê-las ainda mais.

Acho que eu só penso em você ainda porque não tenho alguém melhor pra pensar.

Ele me olhava triste. Eu não suportava seu olhar triste a lembrar-me das vezes todas que o tinha procurado inutilmente pelas ruas sem encontrá-lo. Agora que o encontrava, já não o procurava. E um encontro sem procura era tão inútil como quanto uma procura sem encontro.

Só que as coisas têm a hora certa de chegar, eu sei que você sabe.

(...) nossa louca necessidade de ilusão.

Diria qualquer coisa como olha, tenho medo do normal, baby.

Você não me conta seus desejos. Sorri com os olhos, com a mesma boca que mais tarde, um dia, depois daqui, poderá me dizer: não.

Mantenha seu equilíbrio sobre o fio da navalha.

Você nem precisa trazer maçãs nem perguntar se estou melhor, você não precisa trazer nada. Só você mesmo.

Mas sempre era muito mais que um ano; e nunca, muito menos que um segundo.

Eu quero pouco e quero mais. Quero você. Quero eu.

Por alguns momentos, apenas alguns momentos, é como se houvesse assim uma espécie de esperança, de possibilidade de esperança.

De repente sinto medo. Um medo antigo, o mesmo que sentia o menino escondido embaixo da escada, esperando castigos.

… paixão deve ser coisa discreta, calada, centrada. Se você começa a espalhar por sete ventos, crau, dá errado. Isso porque ao contar a gente tem a tendência,
digamos, “embonitar” a coisa, e portanto distanciar-se dela, apaixonando-se mais pelo supor-se apaixonado do que pelo objeto da paixão propriamente dito. Sei que é complicado, mas contar falsifica – é isso que quero dizer - e pensando mais longe, por isso mesmo, literatura é sempre fraude. Quanto mais não-dita, melhor a paixão.

Olhe firme no meu olho, me encara fundo.

Ela explicava, sorrindo - um sorriso diferente dos que costumava sorrir: - Não, gurizinho. Quando a gente gosta mesmo duma pessoa, a gente faz essas coisas.

Eu retribuo o sorriso. Eu correspondo ao abraço. Eu digo sim. Eu quero sim. Eu sinto sins. Só porque estou vivo.

Teu olho bate em mim e logo se desvia, como se em minhas pupilas houvesse uma faca, uma pedra, um gume.

Eu acho então que se escrever te dá um sentido para estar viva (ou a ilusão de um sentido, que importa?), então vai e escreve e diz tudo e rasga o coração, as vísceras expõe tudo, grita, esperneia - no papel.