Fase Ruim Fase Boa Fernando Pessoa

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Ele me olhava triste. Eu não suportava seu olhar triste a lembrar-me das vezes todas que o tinha procurado inutilmente pelas ruas sem encontrá-lo. Agora que o encontrava, já não o procurava. E um encontro sem procura era tão inútil como quanto uma procura sem encontro.

Só que as coisas têm a hora certa de chegar, eu sei que você sabe.

(...) nossa louca necessidade de ilusão.

Diria qualquer coisa como olha, tenho medo do normal, baby.

Você não me conta seus desejos. Sorri com os olhos, com a mesma boca que mais tarde, um dia, depois daqui, poderá me dizer: não.

Mantenha seu equilíbrio sobre o fio da navalha.

Você nem precisa trazer maçãs nem perguntar se estou melhor, você não precisa trazer nada. Só você mesmo.

Mas sempre era muito mais que um ano; e nunca, muito menos que um segundo.

Eu quero pouco e quero mais. Quero você. Quero eu.

Por alguns momentos, apenas alguns momentos, é como se houvesse assim uma espécie de esperança, de possibilidade de esperança.

De repente sinto medo. Um medo antigo, o mesmo que sentia o menino escondido embaixo da escada, esperando castigos.

… paixão deve ser coisa discreta, calada, centrada. Se você começa a espalhar por sete ventos, crau, dá errado. Isso porque ao contar a gente tem a tendência,
digamos, “embonitar” a coisa, e portanto distanciar-se dela, apaixonando-se mais pelo supor-se apaixonado do que pelo objeto da paixão propriamente dito. Sei que é complicado, mas contar falsifica – é isso que quero dizer - e pensando mais longe, por isso mesmo, literatura é sempre fraude. Quanto mais não-dita, melhor a paixão.

Olhe firme no meu olho, me encara fundo.

Ela explicava, sorrindo - um sorriso diferente dos que costumava sorrir: - Não, gurizinho. Quando a gente gosta mesmo duma pessoa, a gente faz essas coisas.

Eu retribuo o sorriso. Eu correspondo ao abraço. Eu digo sim. Eu quero sim. Eu sinto sins. Só porque estou vivo.

Teu olho bate em mim e logo se desvia, como se em minhas pupilas houvesse uma faca, uma pedra, um gume.

Eu acho então que se escrever te dá um sentido para estar viva (ou a ilusão de um sentido, que importa?), então vai e escreve e diz tudo e rasga o coração, as vísceras expõe tudo, grita, esperneia - no papel.

Tudo que eu andava fazendo e sendo, eu não queria que ele visse nem soubesse, mas depois de pensar isso me deu um desgosto porque fui percebendo, por dentro da chuva, que talvez eu não quisesse que ele soubesse que eu era eu, e eu era. Começou a acontecer uma coisa confusa na minha cabeça, essa história de não querer que ele soubesse que eu era eu, encharcado naquela chuva toda que caía, caía, caía e tive vontade de voltar para algum lugar seco e quente, se houvesse, e não lembrava de nenhum, ou parar para sempre ali mesmo naquela esquina cinzenta que eu tentava atravessar sem conseguir.

Hoje eu estava assim: mais lento, mais verdadeiro, mais bonito até. Hoje eu diria qualquer coisa se você telefonasse. Por dentro também eu estava preparado para dizer, um pouco porque eu não agüento mais ficar esperando toda hora você telefonar ou aparecer, e quando você telefona ou aparece com aquelas maçãs eu preciso me cuidar para não assustar você e quando você me pergunta como estou, mordo devagar uma das maçãs que você me traz e cuido meus olhos para não me traírem e não te assustarem e não ficarem querendo entrar demais dentro dos teus olhos, então eu cuido devagar tudo o que digo e todo movimento, porque eu quero que você venha outras vezes (...)

Cuidar dos vivos: Isso significa exatamente cuidar do presente, consertar o que restou, e trabalhar com o que sobrou... É prosseguir e investir no que ainda resta. É valorizar aquilo o que temos perto, e não reclamar pelo o que se foi. É fazer o que pode ser feito. Esse é o momento das decisões corretas, o nosso destino é só uma questão de escolhas. Eu decido o que terei amanhã. É a lei de plantar e colher. A minha semente de hoje, será o meu fruto amanhã.