Fala
Meus ouvidos que são loucos na tua fala.
Minha boca nos teus beijos,
Minha mente nos teus pensamentos.
E meus olhos na tua cara.
meu corpo é
meu lugar
de fala
e eu falo
com meus cabelos e
meus olhos e
meu nariz
meu corpo é
meu lugar
de fala
e eu falo
com minha raça
RACISMO NÃO
Ela pode ser passista,
jornalista, cientista, ministra.
Mulher negra, decidida,
pode ser o que quiser.
Ele pode ser atleta,
poeta, astronauta, desembargador.
Homem negro, destemido,
pode chegar onde quiser.
Eles podem escolher qualquer caminho, seja ele, o caminho que for.
Sabem, bem, por experiência,
não há caminhada sem dor.
Ambos sabem que vivem a triste realidade de um mundo absurdo
que separa as pessoas
pelo seu gênero e cor.
Ambos sabem que suas escolhas enfrentarão barreiras invisíveis, disfarçadas, dissimuladas ou não.
Barreiras de segregação.
Barreiras, por vezes, escancaradas
que envergonham os cidadãos
de bem de uma nação.
Herança de um período cruel
em que irmão escravizou irmão.
Discriminação racial, social, cultural.
Discriminação ancestral.
Racismo estrutural.
Enraizado em mentes estúpidas
Continua semeando o mal
Mesmo que não seja esse,
exatamente, o meu "lugar de fala"
deixo aqui e agora
a minha posição.
Racismo não!
Valéria R. F. Leão
E com a ponta,
Dos meus dedos,
Todas estas letras,
São jogadas,
Nesta folha,
Que nada fala,
Só deixa,
Cálice
Distância quero de ti, ó cálice
Eu tenho tanto a dizer
Mas o que posso ouvir é apenas
Cálice
Não quero um copo
Quero poder dizer
Não desejo bebidas
Apenas não quero ouvir, mais uma vez
Cálice
A dor que sinto diariamente
Me faz querer falar
Mas quando busco desabafar
Ouço apenas, cálice.
Fala-me do tempo e das intrigas,
e dessas coisas que dizemos por falar…
Diz-me prosápias das modestas raparigas,
que fazem renda numa casa à beira-mar.
Diz-me essa história proibida de dizer,
arrecadada no cacifo dos segredos…
Conta-me um verso, daqueles que dão prazer,
quando as vagas fazem rimas nos rochedos.
Canta-me um fado, com a tua voz castiça,
denunciando os infortúnios da miséria…
Fala do povo, do divino, e da justiça,
com essa crença que a justeza faz etérea.
Diz um olá no meu ouvido encortiçado
pelo silêncio das palavras mais esquivas…
Fala do conto que não foi sequer narrado
no nobre esboço do condão das narrativas.
Other side
O mundo seria bem melhor, se antes de uma atitude, gesto ou fala, tentássemos entender o outro lado.
Antes de conclusões precipitadas.
Antes de enxergar atitudes e falas como ataques.
Antes de qualquer revide, faz bem tentar pensar como outro pensa.
Etimologicamente, respeito significa olhar de novo, e de novo e de novo, esses últimos por minha conta.
A profunda revelação, é que respeito, não tem a ver com quem ou com o que interagimos, mas trata-se da retórica interna de nosso senso crítico, que nos leva a valorizar as congruências, ainda que infimas, ao ponto de minimizar quaisquer outras divergências
Pensar como o outro lado, não é simplesmente colocar-se no lugar do outro, é primeiramente, considerar limitações e sentimentos, advindos de uma vida pregressa, não adianta mudar de lugar com a mesma "cabeça", é preciso ter a humildade para reconhecer que há motivos para ser enxergardo errado aos outros olhos.
Paralisia do Silêncio
O silêncio, tão denso quanto a noite, não veio pela calma, mas pelo medo. Ele se instalou nas palavras que nunca foram ditas, nas mãos que não se tocam mais, nas promessas que ficaram no ar, suspensas entre o desejo de acertar e o temor de errar. Cada olhar fugidio, cada suspiro contido, revela uma alma paralisada, sem direção, presa em um labirinto de incertezas.
O silêncio é um campo minado, onde cada passo hesitante pode desencadear uma explosão de dores veladas. Ele é o eco da insegurança, uma muralha invisível que se ergueu entre dois corações que, outrora, pulsavam em uníssono. E agora, o amor que antes era um farol se perde na escuridão, sem saber para onde ir, sem ter para onde correr.
Neste silêncio, há uma busca desesperada por segurança, por não errar mais, por não perder o que resta. Mas, ao mesmo tempo, há o receio de que, ao tentar se mover, tudo desmorone. O silêncio, então, se torna um refúgio doloroso, um esconderijo onde o coração se protege do que não pode controlar.
E assim, paralisados, permanecemos em um espaço onde o medo de perder fala mais alto do que a vontade de encontrar o caminho.
