Eu sou aquilo que Perdi Fernando Pessoa

A minha única diferença em relação a um homem louco é que eu não sou louco!

Sim, eu sou um homem e choro. Um homem não tem olhos? Não tem também mãos, sentidos, inclinações, paixões? Por que é que um homem não devia chorar?

Não é que eu sou tão esperto, é que apenas eu fico com os problemas por mais tempo.

Eu digo sempre que das três virtudes teologais chamadas, eu sou fraco na fé e fraco na qualidade, só me resta a esperança. Eu sou o homem da esperança.

Eu sou uma parte de tudo, tal como a hora é uma parte do dia.

É isso que eu sou: solidão e solidariedade.

Eu não evoluo, sou.

Eu sou um escritor difícil
Que a muita gente enquizila,
Porém essa culpa é fácil
De se acabar duma vez:
É só tirar a cortina
Que entra luz nesta escurez.

Eu sou homem e nada do que é humano me é estranho.

Sou um homem simples. Tudo que eu quero é sono suficiente para dois homens normais, uísque suficiente para três, e mulheres suficientes para quatro.

Mas que espécie vens tu a ser?, perguntou Leo.
Sou um palhaço, respondi eu, e colecciono instantes. Adeus.

Eu sou um homem velho e conheci um grande número de preocupações — mas a maioria delas nunca aconteceu.

Quando eu era jovem, de manhã alegrava-me, / de noite chorava; hoje que sou mais velho, / começo duvidoso o meu dia, mas / sagrado e sereno é o seu fim.

Eu somente sou útil, de alguma forma, através da música.

Onde há vida, há esperança.

A hora do encontro é também despedida. A plataforma desta estação é a vida.

Se perdi os meus dias na volúpia, ah! devolvei-los a mim, grandes deuses para que eu volte a perdê-los.

Se amanhã o que eu sonhei não for bem aquilo, eu tiro um arco-íris da cartola. E refaço. Colo. Pinto e bordo.

Mas eu quero mais é aquilo que não posso comprar. Nem é você que eu espero, já te falei. Aquele um vai entrar um dia talvez por essa mesma porta, sem avisar.

Se eu te pudesse dizer
O que nunca te direi,
Tu terias que entender
Aquilo que nem eu sei.