Eu Gosto do Risco dos que Arriscam
Atraves(sendo)
Como todo bom viajante, eu comecei sonhando. Alimentando a cada dia o desejo de me aventurar. Buscando a coragem em cada história que pudesse me dizer: "sim, vai valer a pena!". Eu tentava me explicar o porquê dessa ânsia de viajar. Pra longe. Pra fora da zona de conforto.
Um dos -muitos- filmes que eu assisti inúmeras vezes foi "Comer, Rezar, Amar". Dentre os vários aprendizados que Liz Gilbert assimilou ao longo de sua jornada, um me marcou bastante. Ele diz respeito à filosofia que ela adotou diante das pessoas que encontrou e dos lugares por onde passou. O trecho é grande (e pode ser encontrada ao final do texto), mas pode ser resumido emse jogar de coração na jornada da vida eaceitar cada pessoa que atravessa sua vida como um professor.
Na minha tradução livre, uso o verbo atravessar porque essas pessoas passarão, deixarão uma marca, mas não necessariamente permanecerão; falo em travessia, porque é o que, na minha opinião, fazemos ao viver, ao viajar, ao superar nossos próprios medos. Atravessamos. Atravessamos para algo além.Vivemos através. Através, sendo. (Atraves)sEndo. Atravessando...
Ao longo da minha travessia, tomei para mim a lição de Liz: aceitar cada pessoa como um ensinamento. Qual lição essa pessoa me traz? O que posso aprender com isso? Aceiteicada revés como um aprendizado; e cada pessoa como um desafio...pra mim mesma. Se no começo isso serviu para aceitar tudo o que a mim viesse; agora, no final, isso me ajuda a entender por onde eu caminhei para chegar até aqui. O aqui tido como a filosofia e as crenças que tenho hoje.
Comecei fazendo uma lista das pessoas que encontrei ao longo desse ano. Suas histórias incríveis... (Ainda consigo imaginar meu sorriso no rosto e o brilho nos olhos ao ouvir cada uma delas.) Pessoas que me faziam ver que, sim, eu estava me aventurando; mas, sim, é possível ir -ainda- mais longe. Sempre é.
Ao longo da lista, o mais incrível foi perceber que a minha caminhada começara antes mesmo que eu me desse conta dela. Percebi que, antes mesmo da jornada propriamente dita - mochila nas costas e pé na estrada-, eu já havia encontrado pessoas que, no meu dia-a-dia, colaboraram para os ideiais e ideias que eu adotei. E que hoje se mostram ainda mais fortes. Eles estavam todos a minha volta. Da casa à mesa de bar.
A mãe que te mostrou como é possível ter um grande coração. O pai que te ensinou a sonhar. A irmã que todos os dias encenava a arte da leveza:"relaxa!".A professora de filosofia que te abriu os olhos para a lógica da Matrix (mal sabia eu que enquanto eu bocejava, eu já começara a mudar...)O namoradinho de portão que já naquela época tentava me abrir os olhos sobre as ilusões da vida cotidiana. A amiga, que por anos discutiu as mais loucas teorias que, no fim, não eram tão loucas assim. E de teoria pouco tinham. A amiga que te fazia sorrir só de estar(sor)rindo. Tudo assim, ao mesmo tempo! O sonhador determinado que com 20 e tantos anos resolveu mudar de profissão, trocando a certeza de uma vida mais ou menos pela incerteza de uma vida transbordante. As amigas que largaram um curso meio -ou quase- completo, para iniciar um outro curso. E hoje brilham ao falar sobre a profissão que escolheram. O amigo que te ensinou a não levar a opinião dos outros tão a sério - ou, dependendo do caso, nem mesmo levar. Deixe por lá. A mineira doida que chegou no hostel, em pleno ano novo, sozinha: "posso me juntar?", mostrando que pra começar a falar com alguém é preciso, antes de tudo...falar! E, sim, viajar sozinho te força a falar...consigo e com os outros!Os amigos que viajaram e trouxeram mil fotos. E um novo jeito de agir.
Eles, todos eles te prepararam em doses homeopáticas para as lições por(vir). Estas, que viriam todas de uma vez; numa só intensidade. Ensinamentos que você ainda assimilará e entenderá - talvez- ao longo de toda uma vida. Pessoas que passariam pela sua vida rapidamente em termos de presença física, mas que permanecerão contigo por toda a sua existência através do aprendizado que deixaram.
A senhora croata que, sem falar inglês, te pegou pela mão e mostrou o caminho, em meio à muita neve e frio. O senhor meio manco que, mesmo sem conseguir andar direito, encarou sua desconfiança egoísta e levou você até a parada de ônibus, em meio ao caótico trânsito de Istambul. O professor turco que viu que você estava esperando o pôr-do-sol no lado errado do Bosphoros, perdeu um certo tempo para te mostrar que é possível confiar e te mostrou onde você devia estar... (Eu nunca esqueci aquele pôr-do-sol. Entre a Ásia e a Europa...não havia outro lugar para estar naquele momento!)
Dia 11 de fevereiro de 2013. Há pouco mais de 9 meses eu entrava num avião com uma única certeza: a incerteza! Trocava uma “formatura-certa” e um “futuro-certo” por um intercâmbio para um lugar que eu nunca tinha ido, nunca tinha ouvido falar e nunca tinha pensado em estar.
Alguns chamaram de loucura, outros chamaram de coragem. Eu já nem tentava nomear. O que antes era sonho, já era quase fato no dia do embarque . O que seria, então? Meus pais chamavam de “investimento no meu futuro” (mas...não seria no presente?).Era muita justificativa para uma só opção: subverter a ordem das coisas na sociedade! (Como assim, você não vai se formar no “tempo certo”?).
Os pessimistas chamaram de “Ano Perdido”. A eles eu dedico o meu post.Eles estavam certos: eu, realmente, perdi muito esse ano!
Primeiro de tudo, eu perdi MAIS um ano normal na faculdade, imaginando como seria aquele mundo de que eu tanto ouvia falar, mas conhecia apenas uma insignificante parcela. Eu perdi de passar mais um ano pensando “E se...?.” Eu perdi um ano de desejar ser uma pessoa em intercâmbio. Eu perdi um ano de reclamações. Eu perdi um ano de atormentar os meus amigos e familiares com o meu mau humor e frustração. Eu perdi de passar um ano num lugar, achando que meu lugar era outro. Eu perdi uma formatura que me traria mais infelicidade que satisfação.
E tem mais!
Eu me perdi pela Europa, eu me perdi pelo mundo. Dei um pulinho na Ásia, só pra sentir o gostinho do – ainda mais – diferente. E querer voltar. Eu me perdi pelas ruas de todas as cidades que visitei, principalmente Barcelona!
Eu me perdi pelos meses, pelas semanas e pelas horas. E, só não me perdi mais, porque as estações do ano estavam sempre lá, dispostas a lembrar que os tempos estavam sempre dispostos a mudar, do mesmo modo que eu mudava.
Eu perdi ônibus, perdi trem, perdi avião. Sim, eu perdi! Eu também perdi o sentimento de perda. Esse - que eu já começara a abandonar quando decidi vir para a Croácia - continua se perdendo em cada viagem, em cada conversa, em cada pessoa, em cada história de vida que eu não conheceria se tivesse continuado abraçada ao comodismo.
Eu perdi o medo. E esse, esse foi o mais difícil de perder. Às vezes ele visita, tenta se agarrar de volta, mas não demora a ser expulso. Perdi o medo da estrada, perdi o medo da solidão, perdi o medo do futuro. Eu perdi o medo da vida, eu perdi o medo da sociedade. E esse foi o mais lindo dos medos perdidos. Não, eu não ouvi falar. Eu vi. Eu vi que nesse mundo tem – SIM!- gente capaz de fazer o bem pelo bem. E isso trouxe a esperança de volta. Ah, a esperança! Mas, peraí, essa entra nos ganhos. E esse texto é sobre perdas, certo? Melhor parar por aqui...
Ah, eu também perdi o apego material. Claro que, infelizmente, ainda não totalmente. Sim, ainda lentamente, ele se esvai. Ele se vai. Ao longo de todo o processo anterior ao intercâmbio e ao longo do próprio intercâmbio. Primeiro por uma questão de racionamento de dinheiro e, pouco a pouco, por uma questão de consciência. As coisas materiais acabaram por se tornar simplesmente...materiais. Apesar de matéria, elas carecem de substância!
É a tal da filosofia da banana, que minha grande amiga, companheira, aventureira desse ano de filosofias, viagens e aventuras, Jana Maurer, bem nomeou e descreveu aqui.E isso só entende e concorda quem já sentiu a sensação de ter a “vontade de conhecer” mais pesada que a “mochila nas costas”. É incrível como o “ter” se torna totalmente substituível pelo “conhecer”.
E, finalmente, alguns irão argumentar: mas, e os momentos com seus amigos e familiares que você, efetivamente, perdeu? Aqui, eu reconheço, eu perdi. Mas, com isso, eu (re)conheci o que e quem eu realmente sinto falta nos meus dias. Eu (re)conheci o que realmente é importante pra mim no Brasil e/ou em qualquer lugar do mundo: pessoas, afeto, laços, momentos, que se criam e renovam no tempo. Ops! Esses são, de novo, ganhos e não perdas.
E aí eu chego à última e mais importante da lista (não exaustiva) de perdas: eu perdi o lado negativo da vida. Perdi essa mania de ver tudo pela ótica da perda. Porque, no fim, toda perda tem seu ganho. Você só estava cego demais para enxergar.E aí, eu também perdi a cegueira. Cegueira de achar que eu era incapaz de narrar minha própria história.
Pois é. Eu perdi muito.
Sobre trevos e sorte
Dia desses de muito silêncio e calmaria, estava eu num belo jardim procurando trevos de quatro folhas. O lugar era pequeno e nas horas livres não havia muito o que fazer. Logo me dei uma tarefa: procurar trevos.
Lá pelo segundo dia estava bem focada em olhar e contar cada uma das pétalas dos bonitos tão pequenos tanto formigas (tá, acho que um pouco maiores), quando um pensamento veio direto e certeiro como um raio:
- Por que está procurando a sorte? Já não é sorte o bastante estar aqui agora? Por que não parar para apenas admirar?
Logo me dei conta que muitas vezes estamos procurando trevos. Olhamos pra cá, olhamos pra lá. Nos damos metas para encontrar esse grande trevo de quatro folhas. E esquecemos é de contemplar pro jardim a nossa volta. A sorte é sempre compreendida como algo por vir e nunca como o presente.
Depois daquele dia, não procurei mais trevos.
COMO EU DESPREZO A ETERNIDADE
"Amo e desejo a eternidade." Assim dizem os homens, como débeis amantes platônicos.
Amam e desejam o que nunca terão, do mesmo modo como o poeta ama e não deseja possuir, a musa intocável...
Se queremos que a vida tenha algum sentido, devemos procurá-lo em algum ponto central imaginário, entre a realidade decadente e algum desejo impossível!"
Evan do Carmo
Mesmo que não venha mais ninguém
Ficamos só eu e você
Fazemos a festa, somos do mundo
Sempre fomos bons de conversar
Pode ser o seu tamanho
Ou o jeito que você erra
No momento em que eu te ganho
Ou no barco que te leva
Pode ser o que você quer
Ou o que eu tenho pra te dar
Uma vida inteira pra viver
Ou um só segundo pra lembrar
Um dia eu vou ficar bem
Só pra te querer mais
Onde quer que eu ande bem
Domingo é pra te dar paz
Ele provavelmente acabou com minhas chances de ser feliz com outra pessoa. Como eu poderia gostar de outros homens quando não podiam sequer se comparar a ele?
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Você é tudo que eu preciso,
Amor da minha vida,
Não pode faltar
Peguei a estrela mais linda
Que existe no mundo
E guardei pra te dar
Eu não sei como o cupido me flechou
Eu só sei que estou apaixonado
E enlouquecendo de amor
Um amor tratado
como fruto de um sentimento
Quem não teve, aguarde,
pois terá o seu momento
Asas. (Autoral)
Estávamos todos bem, até que você resolveu voltar.
-Eu estava bem, até que te vi passar na rua.
Você dobrou o tapete da porta de entrada, quebrou um copo na cozinha, derrubou meu travesseiro no chão e sujou o chão do banheiro de lama. Isso por que fazia apenas uma hora que você colocou seus pés na casa.
-Eu dobrei o tapete da porta de entrada (nunca gostei de marrom); Eu sou desastrado mas, o copo apenas escorregou da minha mão; Senti falta de maciez da sua cama, só que seu travesseiro é muito duro; Sobre a lama no banheiro? Esse foi de propósito mesmo. Sabia que você ia ter que lavar o banheiro.
Quando você foi embora eu tive que desdobrar o tapete da porta de entrada, tive que catar os cacos de vidro do copo que estava já em um canto da cozinha, por que eu os empurrei para lá com a vassoura. Troquei a fronha do meu travesseiro e o coloquei na cama, além de tudo isso, tive que lavar o banheiro.
-Você sempre foi perfeccionista. Sujeira não está em seu vocabulário.
Você fez meu cachorro latir, minha mãe ficar com raiva. Me fez chorar e quebrou meu coração.
-Aquele pulguento continua insuportável. Sua mãe nunca gostou de mim, convenhamos. Você sempre foi muito sensível, mas...desculpa...eu não queria ter quebrado seu coração.
Quando você foi embora, eu fiz carinho no meu cachorro e dei um calmante a minha mãe. Respirei fundo e parei de chorar, mas meu coração continuou partido.
-Eu nem sei o que dizer...eu quebrei mesmo seu coração?
A forma como você saiu me machucou mais ainda, poxa... eu pensei que voltaríamos ao normal. Mas você ficou bravo e depois de tudo ainda saiu irritado e bateu a porta. Grosso.
-Eu fiquei completamente cego quando você disse que poderíamos voltar a ser como éramos. Lógico que não poderíamos. Você já havia me substituído.
Eu senti o ódio e talvez tristeza em seu olhar quando você saiu por aquela porta. Eu só não imaginei que eram sentimentos tão fortes.
-O fato de que você havia me substituído foi simplesmente horrível. Senti como se meu coração tivesse sido pisoteado, minha alma quebrada e meus olhos ardiam. Eu só queria parar de sentir dor.
Você sabe que eu iria salvar seu coração, reconstruir sua alma e acabar com a ardência de seus olhos, mas naquele dia você estava cego. Cego em sentir seus outros sentimentos.
-Eu apenas queria ser livre dessa dor.
Eu sei. Eu entendo que você só queria ser livre, mas você se esqueceu de bater as asas quando pulou do décimo oitavo andar.
-Eu me sinto livre, mas aqui é quente.
Eu descobri então que você nunca teve as asas; E eu quase perdi as minhas.
Neste mundo, vencer é tudo, vencedores são validados e perdedores são negados. Até agora, eu nunca perdi em alguma coisa, e não o farei no futuro. Desde que eu sempre ganhe, eu estou sempre certo. Se você se opuser a mim... Eu vou matar você, não importa quem você seja.
Os únicos que têm permissão para me olhar nos olhos enquanto eu falo são aqueles que me servem. Ninguém que se opõe a mim é permitido olhar para baixo em mim. Conheça o seu lugar.
Eu perdi, é a primeira vez desde o dia em que nasci, então isso é.... Derrota, quão cruel... Há uma dor inexplicável no meu peito, não sei se sou capaz de Manter minha compostura até o line-up.
Alguns homens têm sonhos, outros têm desejos. Eu tenho um projeto de vida: Influenciar pessoas, para o bem, para o amor, e para a poesia da vida. Dedico 24 horas por dia para alcançar este objetivo, já colhi belos frutos, nesta seara de árido manejo.
A solidão e eu
Eu e a solidão somos um
um poema de desilusão,
solitário, a solidão e eu
somos um...
Um parto no deserto,
um náufrago em mar aberto,
eu e a solidão somos um,
um natimorto, sem mar
nem porto, a solidão e eu
somos um...
A solidão e eu somos um,
um poema de desilusão,
passageiro solitário
no abismo do desespero
eu a solidão somos um...
